São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 1997
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De "toscos" e de mães

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - No ritmo em que vai o botequim Brasil, o Dia das Mães 97 corre o risco de ser tristemente inesquecível.
O mais recente caso, na catarata de discussões edificantes, veio do presidente Fernando Henrique Cardoso e seu rótulo de "toscos" para os que se opõem à privatização da Vale.
Muito bem. Um dos "toscos" assumidos chama-se Itamar Franco, o antecessor de FHC.
Se estiver de bom humor, o que não é comum, Itamar deve estar pensando mais ou menos assim: "Que ingrato esse Fernando Henrique. Se eu não o tivesse nomeado ministro da Fazenda, jamais teria chegado à Presidência. E me agradece chamando-me de tosco".
Pois é. Itamar teria sido "tosco" ao nomear FHC primeiro ministro de Relações Exteriores e, depois, ministro da Fazenda? Ou só virou "tosco" depois que deixou a Presidência?
O esclarecimento de dúvidas fundamentais como essas é básico para que o país possa resolver seus problemas, não é?
Enquanto isso não ocorre, incomoda ver um campeão da dialética, como FHC o foi nos tempos de sociólogo, aderir ao esporte nacional que é o de tentar desqualificar os críticos, em vez de rebater as críticas.
Argumentos para defender ou condenar a venda da Vale não faltam. Só o caderno especial da Folha, no domingo, listou 12 de cada lado, alguns consistentes, outro meramente retóricos. Mas, de qualquer forma, argumentos.
Em vez de utilizar um deles que fosse (e entrevista coletiva não se presta mesmo a mais do que um argumento de parte do entrevistado), FHC preferiu o caminho pobre (ou "tosco"?) de menosprezar os críticos.
Agora, digamos que um dos criticados, Itamar Franco, esteja em um desses dias de pavio curto que o próprio FHC sempre temeu quando era ministro.
Aí é que se corre o risco de a discussão descambar de vez.

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