São Paulo, quinta-feira, 1 de maio de 1997
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Segurança foi dominado e assassinado

DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA

O segurança de fazenda José Lopes de Oliveira, 35, o Django -assassinado domingo passado em Tamarana (norte do Paraná)- foi morto quando estava dominado, segundo perito do Instituto de Criminalística.
Django foi contratado com outros seis homens para retirar grupo de sem-terra que invadiu há dez meses a Fazenda Borborema, em Tamarana (norte do PR). O delegado Jurandir Gonçalves André, presidente do inquérito, afirmou ter "evidências" de que Django foi morto por sem-terra.
O chefe técnico do Instituto de Criminalística, Geraldo Gonçalves de Oliveira Filho, disse que Django foi morto quando estava "em um plano inferior ao atirador", o que mostra que ele foi morto após ter sido dominado, no interior da casa do administrador da Borborema.
Segundo Oliveira Filho, o tiro foi disparado a cerca de 40 centímetros da cabeça de Django, com a bala entrando na parte superior do crânio e saindo próximo à boca.
Exames de balística só deverão ser feitos a partir do momento em que o Instituto de Criminalística receber as armas apreendidas com os sem-terra e seguranças da fazenda. As armas não haviam sido entregues ao instituto até o final da tarde de ontem.
Um vírus no computador do instituto impediu ontem que o laudo técnico sobre a morte fosse oficialmente entregue.
Saída
As famílias de sem-terra que invadiram a fazenda Borborema deixaram ontem pela manhã a área. A saída ocorreu após a divulgação, pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), de que a fazenda é passível de desapropriação para reforma agrária.
Segundo José Damasceno, da direção do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) do Paraná, os sem-terra ficarão acampados a 500 metros da fazenda, "à espera da desapropriação da área pelo governo federal".
A superintendente do Incra no Paraná, Maria de Oliveira, disse aos sem-terra que irá se empenhar para que a Borborema (de 817,9 hectares) entre na relação de processos que serão analisados pelo conselho diretor do Incra no próximo dia 13. Outras 15 áreas do Paraná também deverão ser analisadas para desapropriação.
O advogado Júlio Salinet, que defende os interesses do proprietário da fazenda, Chafic Bhurian, disse que irá recorrer judicialmente contra laudo do Incra que considera a fazenda improdutiva.
Recurso impetrado junto ao órgão questionando a improdutividade da fazenda foi indeferido.
Segundo Salinet, uma área onde existem mil cabeças de gado bovino "não pode ser considerada improdutiva". O procurador do Incra no Paraná, Nirclésio Zabot, afirmou que a Borborema não cumpriu critérios de eficiência e utilização da terra, sendo considerada improdutiva.
Ontem o delegado Jurandir Gonçalves André visitou o novo acampamento dos sem-terra. Ele deverá ouvir depoimentos das 42 famílias acampadas -quando da invasão eram 60 famílias- e de lideranças do MST na região de Londrina.
Segundo André, esses depoimentos irão "elucidar" fatos contraditórios nas versões apresentadas pelo MST e pelos seguranças da fazenda em relação à morte.
André afirmou não querer fazer "prejulgamentos" sobre informações veiculadas na imprensa do Paraná de que o segurança teria sido morto por um "comando armado" do MST. Disse que já obteve informações que "declinam nomes de líderes da ação armada".

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