São Paulo, quinta-feira, 1 de maio de 1997
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'Com pedradas não se argumenta', diz FHC

DA REPORTAGEM LOCAL; DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao classificar ontem como "político" o movimento contra a privatização da Companhia Vale do Rio Doce, o presidente Fernando Henrique Cardoso disse que "algumas" dessas pessoas preferem o antigo regime da ex-União Soviética.
"Alguns acham que o antigo regime da União Soviética era muito bom", disse FHC, referindo-se aos integrantes da oposição à privatização da Vale. "Por que não dizem (isso)? Então que proponham e vamos discutir", afirmou.
Em tom de desabafo, o presidente deu essas declarações ao desembarcar às 17h de ontem em São Paulo. FHC afirmou que a privatização foi aprovada pelo Congresso. O plano, segundo ele, tem o aval do eleitorado que o elegeu.
"É natural que algumas pessoas pensem outras coisas. Só que essas pessoas perderam as eleições", afirmou. "Eu ganhei dizendo que era favorável às privatizações. De modo que eu vou implementar o programa de privatização."
FHC se queixou da radicalização contra a privatização da Vale. "Eu entendo que as pessoas lutem politicamente. Agora, com pedradas não se argumenta nada. A pauladas não se argumenta nada."
Consulta a médico
"Com gritaria só se atinge o ouvido, sobretudo para quem não está muito bem do ouvido", afirmou. FHC tem se queixado nos últimos dias de dor no ouvido. Saiu direto do aeroporto para se consultar com um médico otorrino.
FHC disse que "não há seriedade" em muitas das ações contra a privatização da Vale. "Uma liminar dizia que o edital não foi publicado em inglês. E foi pedida no interior do Maranhão."
"Há muita gente que acredita que só quando está na mão dos Estados é que as empresas vão bem", disse. "Pensa que tudo que está na mão do Estado está na mão do povo. Não está. Está na mão de quem manda naquelas empresas."
Para ele, a resistência a seu plano de privatização "é uma tentativa de impedir que o povo exerça o seu direito de escolher um presidente para tomar os rumos do país".
"Espero e tenho certeza de que os juízes não vão se deixar levar por interesses menores, ideológicos", afirmou.
"Ninguém vai impedir que haja uma decisão importante para o Brasil, importante até para a confiança internacional de que este país tem rumo".
Fazer barulho
Em Brasília, antes de viajar para São Paulo, FHC disse que o brasileiro é "ideologicamente ligado à idéia de que o bom é fazer barulho". "Temos de ter o esforço é noutra direção."
Criticou a oposição em três discursos distintos. "Querem impedir que o Brasil avance para o futuro. Nós vamos continuar avançando, com tranquilidade, respeitando os procedimentos legais."
"Mas nós não vamos parar. Há momentos em que a transformação se impõe, há um entrave aqui, um entrave ali, mas ela se impõe", disse. Para ele, é "triste" ver as pessoas perderem a sensibilidade aos "desafios nacionais", por estarem "aferradas" ao passado.
Fez referências ao apoio popular a seu governo como forma de determinar as ações que vem tomando. Para ele, o Estado não pode estar subordinado "a uma negociação entre partidos, nem a uma pugna (briga) entre funcionários".
Para FHC, o "povo" não vai deixar as oportunidades do país escaparem. "O povo, na sua serenidade, percebe as coisas, intui quando não tem informação direta e sabe que o caminho é construtivo."
FHC chamou de "ignorante" quem acusa o governo de não ter sensibilidade para o social. Tais pessoas, disse, encaram o social como "atendimento pulverizado, pequenininho". "Não estão vendo que nós estamos universalizando a preocupação com o social."
"O social não é uma ação discreta, demagógica, de uma propaganda ou de uma gritaria. O social é mudar toda uma estrutura, para que os efeitos, no tempo, se produzam, como se estão produzindo no Brasil", declarou o presidente.
FHC lançou ontem o edital de privatização da Malha Nordeste da RFFSA (Rede Ferroviária Federal).

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