São Paulo, quinta-feira, 1 de maio de 1997
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"Patrão não deixa ir à escola"

ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RETIROLÂNDIA

O caso dos irmãos Girlene Bispo de Oliveira, 13, e Erisvaldo, 9, é típico de como o trabalho infantil no sisal interrompe o ciclo escolar. Ela trabalha para comprar roupa, e o irmão divide o dinheiro entre a mãe e os doces.
Girlene recebe de R$ 4 a R$ 5 por semana de trabalho, e seu irmão, R$ 2. Ela conta que juntou dinheiro de janeiro até 10 de abril. Com ele, comprou duas blusas e duas bermudas. Ela está na 2ª série e explica: "Enquanto tiver fibra de sisal para esticar, o patrão não deixa a gente ir na escola".

*
Agência Folha - Quando você começou trabalhar no sisal?
Girlene Bispo de Oliveira - Eu tinha uns 5 anos. Só colocava palma no jegue. Depois comecei a cortar, carregar e estender.
Agência Folha - Por que você não foi à aula hoje?
Girlene - Enquanto tiver fibra de sisal para esticar, o patrão não deixa a gente ir à escola. Por isso, ainda estou na 2ª série. Minha professora disse que eu já poderia estar na 7ª, mas falto muito.
Agência Folha - O que você fez com o dinheiro que deste ano?
Girlene - Deu para comprar duas blusas e duas bermudas. Trabalho para comprar roupa. O feijão e a farinha minha mãe compra para todos meus sete irmãos e ela.
Agência Folha - E você Erisvaldo, quanto ganha por semana?
Erisvaldo Bispo de Oliveira - Quando tiro mais, tiro R$ 2. Dou R$ 1 para a mãe comprar roupa e compro confeito (bala).

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