São Paulo, quinta-feira, 1 de maio de 1997
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"Bode escola" beneficia 50 famílias

ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RETIROLÂNDIA (BA)

Um projeto de geração de renda para famílias miseráveis do sertão baiano já tirou cerca de 200 crianças de Retirolândia (BA) do trabalho no sisal e vêm conseguindo mantê-las na escola.
Apelidado de "bode escola", o projeto entregou há dois anos um bode e quatro cabras para cada uma das 50 famílias que tinham crianças menores de 14 anos nas lavouras de sisal.
Para ganhar o direito de ser incluso no projeto, os pais tiveram de se comprometer a tirar os filhos do trabalho e mantê-los apenas no pastoreio e ordenha dos animais, trabalhos menos pesados e perigosos que o desenvolvido no sisal. Caso os meninos e meninas sejam flagrados no sisal, as cabras e bodes são devolvidos e entregues a outra família.
O projeto é financiado pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) e a organização não-governamental MOC (Movimento de Organização Comunitária), pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Retirolândia.
A distribuição de cabras e bodes é uma praxe antiga entre as ONGs que trabalham no sertão.
Porém, em Retirolândia, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais teve a idéia de exigir a retirada das crianças do trabalho no sisal.
"Foi uma alternativa que tivemos para iniciar o processo de erradicação do trabalho infantil na região", afirma o presidente do sindicato, Noé Silvestre.
Uma vez por mês um técnico do MOC passa nas propriedades para examinar os animais.
"Sem projetos de geração de renda, mesmo com dinheiro do governo, as crianças voltam ao trabalho no sisal", afirmou o agrônomo do MOC Orlando Freire de Mello, responsável pela vistoria dos animais das famílias que receberam os animais
Rebanho
Aloiza Alexandre da Silva, 43, foi uma das beneficiadas. Suas filhas Eriane, 8, e Joseane, 12, que trabalhavam no sisal desde que tinham 5 anos, agora só estudam e cuidam das cabras e bodes.
Em dois anos, o rebanho Aloiza Silva cresceu. No dia 9 do mês passado ela tinha 15 cabeças, 6 delas "buchudas".
Iria devolver duas ao projeto para que outra família fosse beneficiada.
Cada família tem dois anos de carência para começar a devolver os animais.
As matrizes são devolvidas no prazo de quatro anos. Cada cabra gera até três filhos por ano.
"Troquei os espinhos do sisal pelo leite bom das cabras", afirma Joseane, 12, que era analfabeta quando o projeto começou e hoje está cursando a 2ª série.

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