São Paulo, quinta-feira, 1 de maio de 1997
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Governo teme pais acomodados

XICO SÁ
DO ENVIADO ESPECIAL

O governo do Estado de Pernambuco teme que o pagamento de bolsa para as crianças estudarem provoque acomodação e faça com que os pais passem a viver à custa dos filhos.
Por esse receio, a Secretaria do Trabalho e da Ação Social não vai pagar a bolsa pelo número de crianças de cada família que tem filhos no corte da cana-de-açúcar.
O governo confeccionou uma tabela diferenciada. Se a casa tem até dois filhos no canavial, os pais recebem R$ 50 por cada um.
"Se a gente pagar R$ 50 por cada um, muitos pais não vão trabalhar mais, ficarão vivendo da bolsa dos filhos", Edgar Moury Fernandes, secretário estadual do Trabalho.
Pau-de-arara
Por causa da falta de um programa amplo de combate ao trabalho infantil, algumas prefeituras da região da Zona da Mata têm procurado soluções alternativas para tirar os meninos do canavial.
Em Ipojuca (a 50 km de Recife), a prefeitura oferece caminhões, tipo pau-de-arara, para transportar os alunos para as escolas na sede do município -a zona rural possui poucas salas de aula.
Ainda sem saber o que é o projeto da Bolsa Escola, as crianças não vêem nenhum desconforto em enfrentar 20 km, em estradas esburacadas, nas carrocerias dos caminhões. E os pais também aplaudem a iniciativa municipal.
"É a nossa sorte grande", diz Antonio Bezerra Pereira, 48, canavieiro pai de oito filhos, sendo três crianças. "No meu tempo nem isso tinha, escola era só pra filho de barão da capital."
Por precisar das crianças e adolescentes para ajudá-los no trabalho, os pais não liberam os filhos para a dedicação integral à escola na Zona da Mata.
Geralmente os meninos trabalham um expediente e estudam no outro. Essa carga resulta em um quadro negativo na sala de aula.
Pesquisa realizada pelo Centro Josué de Castro mostrou que 52% dos filhos de trabalhadores da cana não conseguem nem mesmo aprender a ler depois de três anos na escola.
A mesma pesquisa, que teve o apoio da entidade inglesa Save The Children, registrou que a indigência econômica predomina em 80% das famílias canavieiras. (XS)

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