São Paulo, quinta-feira, 1 de maio de 1997 |
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Dono diz que empregava 'para elas não roubarem'
DO ENVIADO ESPECIAL A fábrica de pipas, que empregava pelo menos cinco crianças menores de 14 anos, não tinha autorização para operar.Ocupava um prédio com instalação elétrica precária, ventilação quase inexistente e sem equipamentos de segurança básicos, como iluminação, corrimãos nas escadas e extintores de incêndio. A montagem de pipas envolvia o contato diário com barricas de cola e objetos cortantes. As crianças cumpriam turnos de dez horas, das 7h às 17h, com uma hora para almoço. Da confecção da armação da pipa até a embalagem, a pipa passava por doze mãos diferentes. Por cada mil pipas finalizadas, cada criança recebia R$ 4,50. A produção média diária era de mil unidades, segundo as crianças, aumentando durante os meses de férias de verão. A fábrica foi interditada pela Procuradoria Regional do Trabalho no último dia 9 de abril. Há oito meses, o proprietário, Alair Belídio da Silva, colocou um cartaz oferecendo emprego para menores de idade. A procura, segundo ele, "foi fantástica". "É só colocar o aviso e aparecem 50 crianças para trabalhar. Desde que construíram a escola aqui perto, está cheio de criança querendo emprego", afirma. Silva conta que a fábrica vinha tendo prejuízo nos últimos meses e que mantinha as crianças empregadas "de pena delas" e "para elas não ficarem na rua roubando". Ele diz que vendia cada pipa a R$ 0,10 ao varejo, que revendia por preços entre R$ 0,50 e R$ 5, dependendo da época. A diligência da Procuradoria do Trabalho encontrou um estoque de 130 mil pipas, volume incompatível com o consumo local. A procuradora Cristina Brasiliano acredita que as pipas eram vendidas também para outros Estados. Silva sofrerá ação civil pública por crime contra a organização do trabalho. Perseverante, ele pretende reabrir a firma assim que for regularizada. Não conta, entretanto, com mão-de-obra adulta. "Pipa é coisa de criança. Se você põe um adulto para fazer, ele não faz. Ele não tem paciência de ficar ali, sentado. É um brinquedo de criança: papel, vareta, linha e cola de papel", completa. Texto Anterior: Fábrica ilegal de papagaios choca crianças da classe média paulista Próximo Texto: Governo tem projeto para erradicação Índice |
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