São Paulo, quinta-feira, 1 de maio de 1997 |
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'Rap não faz o mundo ruim', diz Coolio
CAMILO ROCHA
A música "Gangsta's Paradise" foi um dos maiores hits de rap dos últimos anos, época em que o gênero vem se tornando mais conhecido pelas mortes violentas de seus artistas. Embora tenha um passado criminoso, Coolio garante que abandonou o "caminho errado". Coolio falou à Folha pelo telefone de Nova York sobre sua nova abordagem, gangstas e o que espera de seus shows no Brasil. * Folha - Qual é a idéia que você faz do Brasil? Coolio - Ouvi dizer que é bonito, quente. E que há muitas mulheres bonitas. Também ouvi dizer que tem uma das maiores taxas de Aids do mundo e que é um lugar onde muita gente faz operações de mudança de sexo. Estava vendo na CNN que a polícia aí tem abusado de seus poderes. Folha - Há uma fortíssima cena de hip hop brasileira. Há planos de fazer algo com rappers locais? Coolio - Não há nada em vista, mas estou aberto a contatos. No meu show, convido pessoas para subirem ao palco e improvisar um rap. Quem quiser pode subir. Folha - O que se esperar do show? Coolio - Vou tocar minhas músicas inteiras, nada dos medleys que costumam rolar na maioria dos shows de rap. Vai ter muita coisa acontecendo no palco, efeitos sonoros, DJ ao vivo. Folha - Como você começou na música? Foi um daqueles casos clássicos no rap de vida bandida transformada pela música? Coolio - Exatamente (risos). Eu sou tradicional. Minha mãe me criou muito bem. Mas você cresce no gueto, e pode acreditar que tudo que você já ouviu falar sobre lá é verdade. Então quando estava no colegial, caí no caminho errado. Drogas, roubo, briga. Eu assaltava casas. As coisas que eu vi e fiz, era para estar até hoje na cadeia ou morto. Mas acordei para o caminho certo, pela música. Folha - Como foi isso? Coolio - Conheci algumas pessoas que faziam rap e resolvi tentar por mim mesmo. Mas antes eu já tocava como DJ em festas. Folha - Isso levou você a fazer questão de passar uma mensagem mais otimista, mais consciente? Coolio - Qualquer um pode ser médico, advogado, rapper -é preciso passar a mensagem positiva. Mas também não adianta eu dizer que o crime não compensa. Diga isso aos cartéis colombianos, à Máfia. A realidade é que a TV fica bombardeando para a molecada imagens de carros legais, casas maravilhosas, mulheres lindas, sexo. Coisas que eles só vão ter com dinheiro. Folha - Como viu as mortes de Tupac Shakur e Notorious BIG? Coolio - Foi o que falei sobre não fazer a coisa certa. Não é a fama nem o dinheiro que vão fazer você deixar de ser o que é. Quando você tiver que morrer, vai morrer. Folha - Qual a sua opinião da rivalidade de rappers da Costa Leste com a Costa Oeste? Coolio - Isso é baboseira inventada pela mídia. Ocorrem problemas pessoais, e aí dizem que é alguma movimentação nacional. Eu não tenho treta com ninguém. Folha - O que acha das acusações de incentivo a violência que fazem ao gangsta rap? Coolio - Este país foi colonizado por criminosos, assassinos e ladrões. O que você acha que podia ser um país assim? Não é o rap que faz o mundo ser ruim, é o mundo que faz o mundo ser ruim. Show: Coolio Quando: terça (6), 21h30 Onde: Metropolitan (Av. Ayrton Senna, 3.000, Barra da Tijuca, Rio, tel. 021/283-3773) Quanto: de R$ 20 a 60 Quando: quarta (7) e quinta (8), 21h30 Onde: Olympia (r. Clélia, 1517, Lapa, São Paulo, tel. 011/252-6255) Quanto: de R$ 30 a R$ 50 Quando: sábado (10) Onde: Projeto Radial (R. Tuiuti, 1.547, Tatuapé, São Paulo, tel. 011/296-3710), 2h Quanto: R$ 12 Texto Anterior: Bia Lessa volta a câmera para pessoas comuns em 'Brasil' Próximo Texto: Músico não é gangsta clássico Índice |
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