São Paulo, quinta-feira, 1 de maio de 1997
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Bia Lessa volta a câmera para pessoas comuns em 'Brasil'

Diretora do filme "Crede Mi" se dedica a uma nova produção

ADRIANE GRAU
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM SAN FRANCISCO

A platéia lotada no San Francisco International Film Festival e crítica positiva na publicação especializada "Variety" por causa de "Crede Mi" parecem aguçar ainda mais a inquietação da diretora Bia Lessa. "Eu estou seca para voltar a filmar", afirma ela, após uma sessão do filme no festival.
"Crede Mi" será mostrado ainda nos festivais de cinema de Boston, New England, Jerusalém, Brisbaine (Austrália), Tóquio, Marselha (França) e Nova York.
Bia e o companheiro e co-diretor Dany Roland revelam que recentemente deram início a seu novo projeto conjunto. O filme, que tem título provisório de "Brasil", começou a ser filmado no Rio no mês passado e deverá ficar pronto em novembro para, talvez, ser inscrito no Sundance Film Festival.
"Brasil" vai custar entre US$ 500 e 600 mil e é uma co-produção com a companhia inglesa Element Films, que tem Ridley Scott entre seus clientes.
Dando continuidade ao estilo desenvolvido em "Crede Mi", Bia e Dany vão novamente dispensar os atores e voltar a câmera para pessoas comuns em "Brasil". "Vou contar a história de um homem desde o nascimento até a morte", diz Bia. "Serão cenas reais de fragmentos de vida de vários brasileiros."
Segundo os diretores, o orçamento maior será consumido pela produção de alto custo. "'Crede Mi' foi gravado em 19 dias, não era uma coisa imensa. Imagine o material que vamos usar para filmar uma lua-de-mel?", pergunta Bia.
Dany concorda. "Fizemos 'Crede Mi' com 45 horas de filmagem", lembra ele. "Só para o primeiro dia de aula de uma criança no Rio, que é o que fizemos para 'Brasil', usamos oito horas de filmagem."
Em vez de se concentrar no sertão, desta vez eles vão viajar pelo país todo.
"Queremos filmar na Amazônia, Pantanal, São Paulo e no nordeste de novo", diz Bia. Como ponto em comum com o filme anterior, destaca-se a falta de roteiro a ser seguido. "É um projeto aberto, que vai se definir durante a feitura", diz Bia.
Bia prevê dificuldades na parte que mostrará a morte. "Quero fazer hospital, UTI, estas coisas dolorosas", afirma. "Vou mostrar este e outros ritos, como nascimento, primeira comunhão."
A equipe formada apenas pelo casal no primeiro filme já dobrou de tamanho. A fotógrafa Ana Mariani fará as fotos still do filme.
"Estamos levando também a Vera Cecília Figueiredo, minha assistente há muito tempo, para ajudar no som", revela Bia. Segundo ela, Vera não tem experiência na área, mas isso não importa. "Ela não entende de som, da mesma maneira que eu não entendia de gravação. Vamos descobrindo com a necessidade", conta.
Segundo Bia, ela não teme enfrentar as mesmas críticas sofridas por causa da falta de técnicos profissionais em "Crede Mi".
"Não preciso de um profissional e sim de alguém que seja inteligente e que se interesse por inventar novas formas de captar o som", afirma. "Não quero alguém que faria tudo de uma forma tradicional."
Além do filme, Bia tem três outros projetos em andamento. Ao chegar ao Brasil no sábado, ela volta a preparar a cenografia da exposição de alta-costura de Christian Lacroix, que abre dia 22 de maio na FAAP.
Em seguida, estréia a ópera "The Rape of Lucrecia", de Benjamin Breathing, em 25 de julho no Rio de Janeiro.
Após terminar o filme, promete fôlego para unir num show em dezembro Maria Bethânia e Hannah Schygulla.
A atriz, famosa por ter feito mais de 20 filmes com o diretor Rainer Werner Fassbinder, agora tenta se firmar como cantora.

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