São Paulo, quinta-feira, 1 de maio de 1997
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Poesia e humor se fundem em Pessoa

ERIKA SALLUM
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Há quem não suporte a sisudez da poesia, principalmente quando ela resolve se unir ao teatro. Para provar que essa mistura pode render um programa divertido, reestréia hoje, no Sesc Anchieta, a peça "Antonio Mora recebe Fernando Pessoa".
O texto, escrito por Marco Antônio Braz e Maurício Marques -respectivamente, diretor e ator da montagem-, é um monólogo repleto de humor, em que a poesia é o eixo central.
Antonio Mora, no caso, é um médium que "recebe" os heterônimos mais famosos do poeta -Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis.
Na realidade, Antonio Mora é o nome de um outro heterônimo de Pessoa, um filósofo criado a partir de um poeta fictício -mais uma das invenções do artista português- cuja diversão era zombar exatamente da filosofia.
"Mora foi o gancho que eu e Braz arrumamos para podermos levar ao palco os versos de Fernando, pelos quais sou apaixonado", conta Maurício Marques.
Apesar de ser repleta de piadas, "muitas à 'Sai de Baixo' ", a peça não é sinônimo de escracho ou besteirol, segundo o ator.
Depois de uma gargalhada, um verso. "O espetáculo passeia por esses dois pólos, fazendo com que o público entenda que poesia é diversão e não um programa maçante", explica.
Primeiro monólogo de sua carreira, "Antonio Mora" é a chance que Marques desejava para atuar em todas as áreas de uma produção teatral.
Até o cenário -formado pela tenda do esotérico filósofo- foi confeccionado por ele, a partir de partes de estantes de ferro.
Com a reestréia desta noite, Marques passa a acumular duas peças: além dos heterônimos de Pessoa, ele faz o papel de Dr. JB, em "Viúva, porém Honesta", de Nelson Rodrigues, também sob a direção de Marco Antônio Braz.
"É um trabalho puxadíssimo, mais do ponto de vista físico que do da interpretação", desabafa.
Há, ainda, uma terceira peça de Braz em cartaz na cidade: "Arturo Ui", encenada no teatro Oficina (região central da cidade).
Teatro em grupo
Primeiro monólogo desse carioca "adotado por São Paulo", "Antonio Mora" é a sexta montagem em que ele atua sob a batuta de Braz, amigo dos tempos de colégio no Rio.
Depois de trabalhar por cerca de seis anos com Moacyr Góes, participando de espetáculos como "Epifanias", "Baal" e "Escola de Bufões", Maurício Marques decidiu se juntar a Braz.
"Eu só acredito em teatro de parceria. Façam teatro de grupo!", diz ele, explicando que grupo significa "profundo conhecimento mútuo" e não apenas a quantidade de pessoas envolvidas.

Peça: Antonio Mora Recebe Fernando Pessoa
Direção: Marco Antônio Braz
Com: Maurício Marques Onde: teatro Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, Consolação, região central, tel. 011/256-2281)
Quando: reestréia hoje; de quinta a sábado, às 18h30
Quanto: R$ 10

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