São Paulo, sábado, 3 de maio de 1997
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Obra compila cartas de Euclides da Cunha

MARILENE FELINTO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

São quase 400 cartas de Euclides da Cunha, das quais 107 inéditas, reunidas pela primeira vez num único volume, desde que saiu a "Obra Completa" (Aguilar, 1966).
A organização e edição crítica da correspondência do autor de "Os Sertões" (1902) são trabalhos impecáveis do pesquisador Osvaldo Galotti e de Walnice Nogueira Galvão, professora de teoria literária da Universidade de São Paulo, que também organizou a edição crítica de "Os Sertões" (1985).
O livro republica cartas espalhadas por diversos livros, jornais e revistas, além de incluir as inéditas, encontradas em periódicos anteriores à publicação da "Obra Completa". Os muito úteis índices de destinatários (com pequenas biografias) e onomástico facilitam a leitura da coletânea.
A correspondência de Euclides sempre foi motivo de zelo de seus amigos e admiradores. Publicações como "Cartas de Machado de Assis e Euclides da Cunha", de Renato Travassos (1931) ou "Euclides da Cunha a seus Amigos" (1938), de Francisco Venâncio Filho são exemplos disso.
Pesquisa
A pesquisa de Galvão e Galotti aconteceu em vários arquivos públicos e particulares do Brasil e na biblioteca Oliveira Lima, em Washington (EUA). Nesta compilação, segundo eles, o acervo mais importante é o das 37 cartas a Reinaldo Porchat, porque "elas esclarecem o período da vida de Euclides anterior à fama, por isso mesmo obscuro e quase sem preservação epistolográfica."
Reinaldo Porchat (1868-1953) era um advogado e político paulista, primeiro reitor da Universidade de São Paulo. Oliveira Lima (1867-1918), foi diplomata e historiador, embaixador em Washington na época em que se correspondeu com Euclides. A investigação da correspondência entre os dois foi a parte mais dificultosa do trabalho, segundo os organizadores, por divergências de datas e trechos.
As cartas reunidas nesta publicação cobrem um período de 17 anos (de 1892 a 1909) da vida do extraordinário escritor, jornalista, engenheiro militar e estudioso do Brasil Euclides da Cunha (1866-1909).
Ela são reveladoras não apenas da personalidade dele -que se inclinava "para os conflitos violentos, para os aflitivos extremos", na descrição de Alfredo Bosi-, como também de seu pensamento e de influências políticas e literárias.
Em carta a Machado de Assis, enviada de Manaus, em 1905 -enquanto chefiava uma expedição de reconhecimento à região do Alto Purus, na Amazônia-, Euclides trata por "meu grande mestre e amigo" o autor de "Dom Casmurro". Com ele discute indicações para a Academia Brasileira de Letras e confessa a saudade que sente dos amigos e de casa.
"(...)Abrevio as cartas às pessoas que estimo. Doem-me muito, neste momento, todas as boas recordações... A dureza da minha missão temerária quase que me impõe o olvido dos belos corações que tanto desejo que batam, um dia, outra vez, a meu lado."
Entre os intelectuais, políticos e escritores que aparecem entre os destinatários de Euclides estão José Veríssimo, Joaquim Nabuco e Coelho Neto.
Quanto aos aspectos biográficos abrangidos pelas cartas -ao pai, ao cunhado, aos amigos mais próximos-, são de ampla gama e indicadores dos episódios dramáticos e do fim trágico de sua vida.
Euclides da Cunha foi morto pelo amante de sua mulher, Dilermando de Assis, com um tiro de revólver em 15 de agosto de 1909. A última carta da coletânea data de três dias antes, escrita para Otaviano da Costa Vieira, cunhado de Euclides, marido de sua irmã Adélia.

Livro: Correspondência de Euclides da Cunha
Crítica e Organização: Walnice Nogueira Galvão e Oswaldo Galotti
Lançamento: Edusp
Quanto: R$ 35 (464 págs.)

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