São Paulo, sábado, 3 de maio de 1997
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China abole ensino universitário gratuito

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

A China anunciou ontem o fim do ensino universitário gratuito. A partir do próximo ano letivo, que começa no segundo semestre deste ano, as 1.032 faculdades públicas vão cobrar uma taxa anual de seus cerca de 3 milhões de alunos, em mais um passo das reformas pró-capitalismo implantadas pelo Partido Comunista.
O sistema de ensino pago, aplicado em algumas faculdades desde 1994, ajudou a "melhorar a eficiência acadêmica e estimular o entusiasmo dos alunos pelo aprendizado", afirmou ao "China Daily", jornal oficial em inglês, um porta-voz da Comissão Estadual de Educação.
O sistema de ensino gratuito representava um "fardo para os cofres do Estado", disse o porta-voz, que não foi identificado.
Os alunos terão de pagar uma taxa anual de 1.500 yuans (US$ 180). Um salário médio em Pequim contabiliza 600 yuans.
O sistema de ensino pago foi implantado inicialmente em 40 faculdades em 1994. No ano passado, 664 estabelecimentos de ensino superior cobravam as taxas anuais.
"Para ajudar os estudantes com problemas financeiros a terminar os estudos, o governo vai continuar a oferecer empréstimos, subsídios, bolsas de estudo e atividades profissionais a aqueles com dificuldades para pagar a taxa anual", afirmou Zhao Jianjun, do Departamento Financeiro da Comissão Estatal de Educação.
O governo chinês avalia que cerca de 20% dos seus universitários provêm de famílias de baixa renda, ou seja, com uma renda mensal abaixo de 200 yuans (US$ 24) por pessoa. "Esses estudantes podem contar com ajuda do governo", disse Zhao.
Estudantes de agronomia, pedagogia, engenharia florestal e geologia, por exemplo, terão mais facilidade para obter bolsas de estudo, pois o governo "precisa desesperadamente de mais talentos" nessas áreas, segundo ele.
A medida quebra mais um dogma do antigo ideário comunista e aprofunda as reformas pró-capitalismo. Em 1978, o Partido Comunista decidiu deslanchar reformas pró-capitalismo para impedir o naufrágio econômico.
A China entrou num ciclo de acelerado crescimento, com expansão da iniciativa privada e gradual retirada do Estado.
O governo chinês, que rejeita reformas políticas, já admite iniciativa privada na educação e na saúde. Além das clínicas particulares, que ainda são minoria, os hospitais públicos também passam a cobrar por serviços, como cirurgias.
As escolas públicas não cobram necessariamente as taxas anuais, como ocorre agora com as faculdades, mas já exigem pagamentos por diversos serviços, como educação física ou lanchesjá são pagos.

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