São Paulo, domingo, 4 de maio de 1997
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FHC prefere governar com segundo escalão

Ministros cuidam da articulação política

PAULO SILVA PINTO; MARTA SALOMON; DANIELA FALCÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso adiou novamente o anúncio do substituto de Nelson Jobim (que deixou o governo em 7 de abril) na pasta da Justiça. Ele decidiu usar, mais uma vez, um nome do segundo escalão, Milton Seligman, para tocar o ministério.
Essa decisão virou rotina para FHC cada vez que ele perde um ministro. Motivo: o governo tem um segundo escalão que governa. Desde o início de sua gestão, FHC decidiu fortalecer os secretários-executivos e outros técnicos, considerados os gerentes da República.
Enquanto os ministros tomam cafezinho com parlamentares e governadores, o segundo escalão cuida da máquina federal e governa. Essa equipe vai do amigo íntimo de FHC Pedro Paulo Poppovic ao economista Sérgio Cutolo.
Poppovic, secretário de Educação à Distância, cuida de programas estratégicos do MEC (TV Escola e informatização das escolas) e chegou a morar alguns dias na Alvorada com o casal Fernando Henrique e Ruth Cardoso antes de arrumar uma casa em Brasília. Cutolo, ex-secretário-executivo da Previdência, foi escolhido para sanear a Caixa Econômica Federal.
Mapa da mina
Alguns nomes, por serem ou técnicos especializados ou técnicos e amigos íntimos de FHC, são transferidos de área de atuação, às vezes completamente diferente do local onde foram empregados.
A cúpula do Planalto não gosta de falar sobre o segundo escalão. Procurado pela reportagem da Folha, o ministro-chefe do Gabinete Civil, Clóvis Carvalho, respondeu com uma recusa em forma de indagação: "Você acha que eu vou dar o mapa da mina do governo?"
Um dos lugares mais fáceis de se encontrar um nome do segundo escalão turbinado é o Palácio do Planalto, mais precisamente na sala do próprio Clóvis Carvalho.
Depois de uma escala ali, alguns são chamados para uma conversa pelo funcionário mais importante do prédio. É o caso do secretário-executivo do Ministério dos Transportes, José Luiz Portella, 44.
Engenheiro especializado em tráfego, estreou no governo como presidente da extinta Fundação de Assistência ao Estudante, cuidando de merenda e livros didáticos.
Durante um almoço, em São Paulo, recebeu um telefonema de Carvalho. Estava sendo transferido para o segundo cargo do Ministério dos Transportes em meio à crise da demissão de Odacir Klein. O próximo ministro receberá um pedido para mantê-lo como secretário-executivo do ministério.
Há suspeitas em Brasília de que o segundo escalão turbinado governe mais que os ministros. Portella descarta a versão: "Ninguém passa por cima do titular da pasta. O presidente às vezes fala comigo e com outros funcionários para saber de detalhes de assuntos que já discutiu com os ministros".
Gerentes
FHC gosta de gerentes. Pessoas que são responsáveis por determinados projetos e têm como missão limpar todos os obstáculos, com mobilidade para encontrar desde ministros e governadores até diretores de departamentos espalhados pela administração federal.
É o caso do advogado José Gregori, 62, chefe de gabinete do Ministério da Justiça e secretário nacional de Direitos Humanos.
As funções de um chefe de gabinete comum -cuidar da agenda e da sala de espera do ministro- passam longe das preocupações de Gregori. Amigo de FHC, ele tem acesso livre não só ao Planalto, mas à casa do presidente. Com esse passaporte, resolve tudo o que precisa na administração federal.
Gregori evita, porém, falar com FHC sobre assuntos profissionais não-agendados. Uma vez foi ao Planalto encontrar-se com o porta-voz Sergio Amaral, e teve que se esconder na garagem quando o presidente chegou.
"Se ele me visse lá, sem ao menos telefonar antes, ficaria assustado." Com a pasta cheia de massacres, como o de Eldorado do Carajás, compreende-se sua preocupação com a taquicardia de FHC.
O segundo escalão inclui pessoas que ficam longe de Brasília. A representante do MEC em São Paulo, Gilda Portugal Gouvêa, amiga de FHC, tem poderes que extrapolam seus limites geográficos.
Passam por seu crivo todos os projetos importantes na área educacional -alguns ficam sob sua gerência informal até amadurecer.
Amigos
O Minsitério da Cultura é o que abriga mais amigos do presidente, embora com poderes limitados à pequena importância do órgão.
Estão lá a secretária-executiva Maria Delith Balaban; o secretário de Apoio à Cultura, José Álvaro Moisés; e o secretário de Política Cultural, Fiori Ottaviano.
Na lista de quadros importantes há também pessoas que são conhecidas pelo presidente mais pelo nome do que pessoalmente, mas considerados imprescindíveis.
Barjas Negri tem sob seu comando toda a reformulação do sistema de assistência médica no país. Luciano Oliva é o secretário-executivo do Ministério da Educação. Cláudia Costin, secretária-executiva do Ministério da Administração, mantém linha direta com Clóvis Carvalho para tratar da reforma administrativa. José Cechin, secretário-executivo do Ministério da Previdência, cuida da reforma do setor.
(PAULO SILVA PINTO, MARTA SALOMON E DANIELA FALCÃO)

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