São Paulo, domingo, 4 de maio de 1997
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Diretor financeiro não quer ser pão-duro

CLÁUDIA PIRES
DA REPORTAGEM LOCAL

Os diretores financeiros não querem mais ser conhecidos como pães-duros ou "cortadores de cabeças", características frequentemente atribuídas aos profissionais que ocupam cargos de gerência ou direção financeira nas empresas.
Quem exerce a profissão acredita que esse tipo de pensamento está sendo ultrapassado.
"Isso vem da mudança do perfil do profissional. Ele está mais participativo e integrado a todos os departamentos da empresa em que trabalha", afirma Rubens João Tafner, presidente do Ibef (Instituto dos Executivos de Finanças).
Para Tafner, o profissional da área deixou de ser visto apenas como o tesoureiro da companhia. "Ele tem hoje novos desafios, tem de encontrar mecanismos para manter a empresa competitiva. Para isso, precisa conhecer marketing e estratégia."
Mas Tafner concorda que muitos diretores financeiros ainda carregam uma imagem negativa, de "durão".
"Isso acontece quando o profissional não 'vende seu papel', não valoriza o que faz. Na verdade, falta comunicação dos dois lados."
O diretor administrativo Fábio José Boassi, que também é responsável pela área financeira da Fazendas Reunidas Boi Gordo, acredita que a comunicação entre diretoria e funcionários fica mais difícil quando a empresa é de grande porte. "Nessas empresas, o diretor financeiro é visto como bicho-papão. Mas não é o nosso caso. Nas empresas menores, a comunicação é bem mais fácil."
Pé no freio
A administradora de empresas Yara Consuelo Cintra, 34, resolveu estudar esse perfil mais a fundo. Ela defendeu, recentemente, a tese de mestrado "O papel do executivo financeiro na organização moderna", na PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio (veja texto ao lado).
O resultado do trabalho mostrou que, por mais que se considere um profissional integrado ao programa de qualidade total da empresa em que atua, muitos diretores financeiros ainda têm perfil conservador.
O trabalho de Yara também mostrou que esses profissionais ainda acreditam ser vítimas do preconceito.
"Eles dizem que os funcionários das empresas em que trabalham esperam que o diretor financeiro seja um tipo 'durão', que tenha sempre 'o pé no freio' quando o assunto é dinheiro."
Para Carlos Eduardo de Mori Luporini, diretor financeiro da Itaú Seguros, muitas pessoas ainda esperam que o profissional da área financeira seja uma pessoa disciplinadora.
Mas ele acredita que esse perfil mudou muito nos últimos anos. "Na época da inflação alta o diretor financeiro vivia na cozinha, ou seja, em seu próprio mundo. Hoje ele já passou para a sala de estar."
Segundo o diretor, alguns profissionais resistiram às modificações propostas pela reengenharia e programas de qualidade e ainda estão sofrendo com isso.
"A visão agora é outra. Todos os setores têm de estar interligados, o trabalho é de equipe", afirma Luporini.
Time
"O estilo gerencial hoje tem de ser outro. Ele é menos hierárquico e mais como de um time. Quem não quer se integrar acaba ficando para trás", afirma Hans Grether, vice-presidente financeiro do grupo Philip Morris.
Para o executivo, porém, a conquista de espaço depende muito do profissional. "É preciso ter habilidade para isso."

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