São Paulo, domingo, 4 de maio de 1997
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Jogadores chegam em caçamba

MÁRIO MAGALHÃES

em São Paulo de Olivença (AM)
Os rituais e procedimentos de um jogo de futebol em plena floresta amazônica mimetizam os dos grandes centros.
O time de São Paulo de Olivença, nas partidas da Copa dos Rios, entrou em campo de mãos dadas, como a seleção brasileira.
A torcida de aproximadamente 2.000 pessoas, 29% da população urbana, passa o tempo gritando o "Em cima, em baixo, empurra e vai", sucesso nos ginásios de vôlei desde a Olimpíada de 92.
O estádio -um lance de arquibancada num lado do campo- lotou graças à divulgação boca-a-boca e por alto-falantes. Não há emissora de rádio ou televisão local.
A equipe da rádio Capital FM, que viajou de Santo Antônio do Içá para cobrir a seleção da cidade, denomina seus repórteres como "trepidantes" -bossa do radialismo esportivo carioca.
Os modismos chegam pelas TVs captadas por parabólicas e com forasteiros que os descobriram em cidades maiores.
Os árbitros usam figurinos idênticos, por exemplo, aos dos que apitam no estádio de Wembley, em Londres.
São três modelos, para não repetir em nenhuma partida da rodada de fim-de-semana.
Os contrastes com o futebol rico ocorrem mais na, digamos, parte operacional.
Para não subir a pé a ladeira de quase dois quilômetros da praça central até o estádio, o time de São Paulo de Olivença foi transportado na caçamba de um caminhão.
A equipe de Santo Antônio, concentrada no barco, foi nas duas motos levadas na embarcação. Dois jogadores carregavam dois colegas de cada vez, evitando o esforço da caminhada.
Os árbitros também iam do hotel na garupa de motos, providenciadas pelos organizadores. Depois, voltavam de ambulância.
No fim de semana anterior, quase apanharam, em Tabatinga.
Antes do primeiro jogo em São Paulo de Olivença, um deles, Gérson Maciel, disse a um policial: "Qualquer tumulto, pode entrar no campo para nos ajudar, não precisa esperar a gente pedir".
Não foi preciso. O único transtorno, nos três dias, foi um bêbado que insistia em xingá-los. Em campo, a dificuldade foi a lama.
Abril é o último mês da estação que os amazonenses chamam de inverno, por causa das chuvas torrenciais. Mesmo assim, o futebol não pára.
(MM)

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