São Paulo, domingo, 4 de maio de 1997
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Corinthians, tá na hora da virada

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Eis uma chance de ouro para o Corinthians se reencontrar com aquele futebol mágico das goleadas da semana passada. Além de contar novamente com todos os seus titulares, pega, em casa, o Botafogo, um dos rabeiras do campeonato.
É bem verdade que o polêmico Serginho parece ter conferido ao time um mínimo de equilíbrio emocional para sair de situação tão vexaminosa. Tanto, que vem de duas partidas sem derrota, o que, convenhamos, já é um feito.
Ao mesmo tempo, o Corinthians refluiu. Não apenas deixou de aplicar goleadas, que isso é circunstancial, mas recaiu num futebol burocrático, vacilante, incompatível com o brilho de seu elenco. Mesmo quando ganhou, merecidamente, do Guarani, na noite do feriado, foi menor do que é.
Tá na hora da virada.
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Claro que me deslumbrei com aqueles 20, 30 minutos do primeiro tempo da seleção diante do México, em Miami, na quarta-feira. Quem estaria livre de tal encanto? Creio que nem mesmo o Bora-Bora, técnico iugoslavo adotado pelos cucarachas das duas Américas há tempos, que, num determinado momento do jogo, reuniu-se com seus auxiliares, à beira do gramado, e ali mesmo realizou um perplexo mini-simpósio para descobrir o que estava acontecendo.
Djalminha, um sarro; Romário, gênio; o time todo, uma máquina azeitada no capricho. Mas prefiro, antes de abrir o champanhe, esperar a Copa América. Quero ver uma taça, ao menos, rebrilhando nas mãos de Zagallo, antes de celebrar esse time maravilhoso.
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Se há uma clonagem bem-sucedida e globalizada, que escapou já ao controle dos ecologistas de plantão, essa é a do torcedor de futebol. O bicho é igualzinho, em qualquer latitude, língua ou etnia.
Digo isso ao lembrar do olé que a torcida de Barranquilla entoou contra a sua própria seleção, quando os peruanos tocavam a bola. E logo os peruanos, inimigos históricos e mortais de colombianos e equatorianos. Além do mais, disputando vaga para a Copa. Tudo porque o seu time perdia de 1 a 0 e não jogava nada, numa noite atípica.
Ora, a Colômbia, desde os tempos do vice-rei, foi emérito saco de pancadas no futebol. Durante séculos, foi surrada impiedosamente por brasileiros, argentinos, uruguaios etc.
Pois foi essa geração de Rincón, Asprilla (que não jogou), Valderrama e cia. que deu dignidade e importância ao futebol colombiano. E isso foi ainda outro dia. Mas já bastou para o torcedor de Barranquilla considerar-se um velho e exigente campeão de várias Copas.
Ninguém é perfeito, como arrematava o Boca-Larga ao saber que Jack Lemmon era homem, no antológico final de 'Quanto Mais Quente Melhor'.
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A reação de Luxemburgo contra a torcida lembra a história do marido que chega em casa para jantar já chutando os brinquedos espalhados pelo chão, reclama do sabonete na pia, arma o maior salseiro com a mulher, e sai indignado pra rua. Porta batida, a indignação se desfaz em malícia. Afinal, a noite é uma criança.

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