São Paulo, domingo, 4 de maio de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ortodoxos questionam identidade judia

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DE NOVA YORK

Quem é judeu? A resposta parece simples, mas não é. Divergências entre lideranças da comunidade judaica estão provocando polêmica nos Estados Unidos.
A União de Rabinos Ortodoxos, entidade de 600 membros, decretou que as congregações conservadoras e reformistas não representam o judaísmo. Seus integrantes, portanto, não seriam judeus.
O rabino Hersh Ginsberg, do grupo ortodoxo, tem feito insistentes ataques às outras correntes. "O que eles fazem não é judaísmo. Um judeu de verdade está proibido de rezar em qualquer templo não ortodoxo. Se o fizer, é porque não é judeu."
"Não podem distorcer a Torá (livro sagrado do judaísmo)."
Para conservadores e reformistas, mais liberais, o principal objetivo do judaísmo é promover uma vida ética, marcada por atos de justiça e respeito ao próximo.
A reação
As declarações do rabino Hersh Ginsberg irritaram não apenas as congregações conservadoras e reformistas, mas também outros grupos ortodoxos. "Não sei quem eles representam", protestou o rabino Marc Angel, da Sinagoga Hispânico-Portuguesa.
Ex-presidente do Conselho de Rabinos Ortodoxos da América, Angel criticou duramente as posições do grupo de Ginsberg. "Temos diferentes pontos de vista em relação aos reformistas e conservadores, mas não deixamos de respeitá-los. São cisões entre irmãos."
Marcelo Bronstein, rabino da Congregação B'nai Jeshurun, de linha intermediária entre a ala conservadora e a reformista, acha que são os ortodoxos que estão se afastando dos princípios judaicos.
O brasileiro Rogério Marx, que faz o curso de mestrado em Estudos Judaicos na Hebrew University College, em Nova York, considera a posição dos ortodoxos uma atitude de desespero. "Nos Estados Unidos, ao contrário do que acontece em Israel, eles são minoria e querem chamar atenção."
Aproveitando-se da polêmica, a organização Judeus por Jesus vem tentando atrair seguidores, com anúncios publicados em jornais norte-americanos. O alvo dos anúncios são os conservadores e reformistas, que representam de 80% a 90% dos judeus dos Estados Unidos e que foram desclassificados por um grupo de ortodoxos.
"Nós entendemos como vocês devem se sentir. Nós, Judeus por Jesus, já ouvimos muitas vezes que não somos mais judeus", diz um trecho do anúncio.
Adiante, afirma que "para respostas definitivas sobre o assunto, só há um volume a ser consultado: a Bíblia." E conclama: "Seja mais judeu, acredite em Jesus."
Mas a atitude do grupo só serviu para irritar ainda mais os conservadores e reformistas, que a classificaram de oportunista.
Representatividade
Uma das razões para que o palco dessa disputa seja Nova York e não as principais cidades israelenses, Jerusalém e Tel Aviv, é o tamanho da comunidade judaica nos Estados Unidos.
"Nova York é o maior centro judaico do mundo e abriga todos os movimentos do judaísmo", diz Rogério Marx.
Sem contar os subúrbios da cidade, Nova York tinha mais de 1 milhão de judeus, de acordo com o censo de 1995.

Texto Anterior: Inteligência vem do berço
Próximo Texto: Israel votará controle ortodoxo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.