São Paulo, domingo, 4 de maio de 1997
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O NOVO CINEMA

Lançado na última quinta em circuito nacional, o filme "O Que É Isso, Companheiro?", baseado no livro homônimo do deputado federal (PV-RJ) e jornalista Fernando Gabeira, colunista da Folha, desponta como sucesso de público e crítica.
As reações acaloradas que se registram na mídia, favoráveis ou não ao filme dirigido por Bruno Barreto, são sinais claros de que o cinema nacional está de volta ao centro do debate cultural no país; ganha novo fôlego e relevância inesperada, sobretudo em contraste com o estado moribundo em que há pouco se encontrava.
Em 1994, ainda no rescaldo da era Collor, foram feitos apenas 5 filmes no Brasil; em 1995, foram 12; em 1996, 35; neste ano, estima-se que seja ultrapassada a marca dos 50.
Mesmo sem compactuar com a sedução de um ufanismo ingênuo e apressado, não há como negar os efeitos saudáveis desse processo de ressurgimento do cinema. Ainda mais quando se considera que ele se faz amparado por formas modernas de incentivo e fomento, como a Lei Rouanet, que foi desburocratizada pelo atual governo, e a Lei do Audiovisual, que, apostando nas novas realidades de mercado, substitui instituições estatais viciadas e corporativas, como a extinta Embrafilme.
É evidente que nem tudo no novo cinema nacional é um mar de rosas. A parceria com a TV, decisiva em países como a França e o Reino Unido, ainda é tímida por aqui; a qualidade média dos filmes recentes também deixa muito a desejar. Ainda assim, o que chama a atenção é que, em meio a uma produção incipiente e ainda frágil, possam surgir filmes com a qualidade e maturidade de "O Que É Isso, Companheiro?", entre outros.
É significativo que o filme trate do terrorismo e da repressão nos anos 60 e 70. Foi sobretudo por meio do cinema que os Estados Unidos conseguiram purgar as feridas abertas pela Guerra do Vietnã. Não parece absurdo pensar -do ponto de vista simbólico e catártico- na guerrilha como o nosso Vietnã.

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