São Paulo, domingo, 4 de maio de 1997
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Terra e consenso

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Com atraso, motivado por viagem, reproduzo parte dos argumentos com que o sociólogo Zander Navarro (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) rebate texto publicado dia 6 de março neste espaço.
O texto criticado baseou-se em trabalho de Augusto de Franco sobre reforma agrária.
Franco acha que a reforma agrária, no Brasil, já não teria efeitos econômicos, embora a defenda por motivos éticos e sociais.
Zander Navarro, doutor pela Universidade britânica de Sussex e com pós-doutoramento pelo MIT norte-americano, enfatiza não só o aspecto econômico da reforma agrária, mas também o seu lado político.
Pelo menos um dos argumentos de Navarro soa pertinente. Ele diz que "a substituição da grande propriedade patronal pela agricultura familiar, como a unidade dominante no meio rural, ocorreu, por via de diversos mecanismos, em todas as economias que atualmente formam o chamado capitalismo avançado, onde, sem nenhuma exceção, prevalecem as unidades de produção agrícola centradas no trabalho e no controle da família rural. Por que o Brasil conseguiria desenvolver a sua economia agrária de forma distinta?".
No campo político, Navarro lembra, com propriedade, que é desproporcional, em relação à população residente na área rural, o número de representantes que esta elege, "quase sempre vitoriosos em vista de comportamentos e práticas políticas essencialmente clientelísticas".
O sociólogo afirma que a eliminação de tais mecanismos exige a reforma agrária, já que estariam "enraizados na grande propriedade territorial".
O trabalho de Zander Navarro é bem mais extenso, mas o espaço da coluna só permite esta sumária síntese.
Basta, no entanto, para demonstrar que a reforma agrária no Brasil está distante de um consenso sobre seus vários aspectos, mesmo entre os que a defendem.

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