São Paulo, domingo, 4 de maio de 1997
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Profissão fotógrafo

IZABELA MOI; EDUARDO BRANDÃO

O brasileiro Marcelo Krasilcic tem exposições espalhadas pela Europa e faz fotos para as melhores revistas do mundo
POR IZABELA MOI
Um brasileiro de 27 anos está assinando a capa do CD da banda inglesa "Everything But The Girl". E também páginas da Harper's Bazaar, The Face, Spin, Visionaire, Interview e Dazed and Confused. E ainda tem seu nome nas melhores galerias de arte da Europa.
O fotógrafo Marcelo Krasilcic pode dizer, no mínimo, que está em um bom momento de sua carreira. Ele foi um entre sete fotógrafos latino-americanos convidados para participar da Arco'97, a Feira Internacional de Arte Contemporânea de Madri (Espanha).
O resultado dessa feira foi a aquisição de parte de seu trabalho por Rob Jurka, diretor da galeria holandesa Barbara-Farber, uma das mais importantes da Europa. Ainda em Madri, ele já tem trabalhos reservados para o Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia.
A carreira foi realmente meteórica: Krasilcic começou a fotografar há apenas dez anos, em Portugal, onde trocou a faculdade de sociologia pela de fotografia. Em 1990, mudou-se para os EUA, onde graduou-se em fotografia na New York University, escola que ficou famosa também por seu departamento de cinema, formando alunos como Spike Lee e Martin Scorcese.
Com uma herança de formação "conceitual", ele diz que sempre se preocupou com uma atitude política que seu trabalho pudesse expressar. "Sempre procurei mostrar a dicotomia entre a chance e o acaso, o proposital e o acaso", diz.
Seu trabalho tem um pouco de tudo: interiores, moda, retratos, natureza, pornografia. A peculiaridade está na personalidade de suas fotos. Para ele, não é a preocupação com a estética do belo tradicional que importa, mas a criação a partir de motivos banais, de cenas absolutamente cotidianas, do estranhamento.
Em suas fotos, faz a ambientação no lugar comum e procura um olhar diferenciado. Ricardo Trevisan, diretor da Galeria Casa Triângulo, representante oficial do fotógrafo, afirma que Krasilcic transforma situações que estão presentes na vida de qualquer pessoa em incômodo. "As imagens estão sempre lá, mas ninguém nunca tinha prestado atenção", descreve.
Ser ou não ser fotógrafo
Apesar da quantidade -e qualidade- dos trabalhos que vem fazendo, ele costuma dizer que ser fotógrafo não é tudo na vida. "Poderia ser qualquer outra coisa. Nutricionista, médico, ator."
Ele não faz distinção entre seus trabalhos comerciais e os considerados artísticos. "Hoje, não há diferença entre uma foto e outra que faço, apenas se elas são mostradas numa revista ou numa galeria. Levei minha preocupação de conteúdo e de mensagem para qualquer foto", diz.
O segredo, segundo o fotógrafo, está em reunir uma preocupação conceitual com a veiculação comercial de seu trabalho. Krasilcic será um dos sete artistas brasileiros convidados para a mostra itinerante "El Jardin de los Senderos que se Bifurcan", organizada por Octavio Zaya para 98 e que passará por Copenhague (Dinamarca), Oslo (Noruega) e Reykjavík (Islândia).
No Brasil, seu trabalho faz parte do Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo. Neste ano, ele virá ao país duas vezes, mas não a trabalho. "Vou apenas participar de casamentos de pessoas queridas".
Sua última façanha é um projeto baseado em estudos que faz sobre homens nus em posição de ioga. Adepto também dessa atividade, vai estar apresentando no Utopian Art Festival 3, em Nova York, de hoje até o próximo domingo, uma performance de exercícios de ioga por três horas, num quarto de hotel. Nu.

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