São Paulo, segunda-feira, 5 de maio de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MST agrega urbanos para invadir a Vale

ESTANISLAU MARIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PARAUAPEBAS (PA)

Pedreiros, garimpeiros, comerciários, motoristas, técnicos em administração e cozinheiras. Esses são alguns dos militantes cadastrados pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), no acampamento em Parauapebas, no Pará.
A meta do movimento é atingir 5.000 pessoas para invadir os 70 mil hectares do Cinturão Verde da Companhia Vale do Rio Doce, dentro do 1,1 milhão de hectares da empresa nas minas na serra dos Carajás, em Parauapebas (630 km ao sul de Belém).
O acampamento está montado a 200 metros da portaria da empresa desde o último dia 23 de abril.
Para engrossar as fileiras, a direção do movimento dos sem-terra cadastra indiscriminadamente, cooptando pessoas que reconhecem não ter qualquer afinidade com a produção agrícola.
Longe da enxada
Quase todos são desempregados. A maioria vive abaixo da linha da miséria. Muitos assumem que entraram no MST como alternativa de sobrevivência, mas jamais pagaram em uma enxada.
É o caso dos irmãos Lázaro, 23, e Jairo Souza Silva, 22. "Não sei nem a época de plantar milho", disse Jairo.
Maranhenses, os dois irmãos sobrevivem de bicos há dois anos em Parauapebas.
Lázaro tem mulher e duas filhas e era pedreiro. Jairo trabalhava em serraria. Ele também tem mulher e uma filha.
João, 20, desistiu de se cadastrar com medo de não conseguir, por pertencer ao MST, uma vaga de técnico administrativo nas minas da Vale do Rio Doce. O nome é fictício a pedido dele.
Ele também faz bicos para manter a mulher e a filha e nunca trabalhou na área para qual se formou no segundo grau há dois anos.
"Avisei o meu sogro, que pensa em se cadastrar para ter mais terrinha", disse João, cujo sogro é motorista de táxi.
Questionado sobre o critério de inscrição, o coordenador de cadastro do acampamento de Carajás, José Nilton, 32, ficou irritado.
"Isso é preconceito burguês. A luta pela terra é de todos", disse.
"Garimpeiro, pedreiro, vendedor e cozinheira não são gente? Vamos capacitar esse povo na prática", disse ele.
Nilton disse ter 2.000 cadastrados -585 garimpeiros de Serra Pelada (100 km de Parauapebas).
Segundo a PM, há mil pessoas acampadas. "Ainda estamos montando barracas. Aos poucos, todos estarão aqui", explicou.
"Com-terra"
Entre os sem-terra, a Agência Folha localizou um "com-terra". "Mas é um terreno urbano pequeno", disse o motorista Sebastião Carvalho, 49. Ele disse receber R$ 486 mensais de salário e mais R$ 450 de dois barracos alugados.
Além do terreno e dos barracos, Carvalho tem uma casa, "que os filhos tomam conta". Ele e a mulher estão acampados.
"Essa é a tática do MST: cadastrar indiscriminadamente para fazer volume. Eles diziam ter na fazenda Macaxeira 4.000 cadastrados. Atualmente, estamos assentado 690 famílias lá", disse o superintendente-adjunto do Incra em Marabá, Marcelo Afonso Silva.
"Outra tática é ameaçar o Cinturão Verde. Foi assim com os assentamentos Rio Branco (em 94), Palmares (em 95) e com a Macaxeira (em 96)." "Pressionam pelo cinturão, o clima fica tenso, o governo intervém, outra área é negociada e o ciclo recomeça", completou.

Texto Anterior: Governo e Justiça silenciam
Próximo Texto: CPI quer rastrear contas de Solano
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.