São Paulo, segunda-feira, 5 de maio de 1997
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Grupo prepara 'Manual do Militar Homossexual'

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Em associação com o Grupo Gay da Bahia (GGB), Flávio Alves planeja publicar em breve um "Manual do Militar Homossexual".
Segundo o antropólogo Luiz Mott, presidente do GGB, o manual vai trazer informações sobre "os direitos legais e constitucionais de um militar homossexual".
Também vai dar dicas de como evitar sofrer discriminação. O texto vai recomendar que o militar gay evite manter relações sexuais dentro da caserna.
"Por uma questão de sobrevivência, se a pessoa quer fazer carreira, tem que andar de acordo com o ritmo da marcha", defende Mott. Por esse motivo, o manual do militar gay vai dizer que "a pessoa só deve se assumir quando puder e se sentir seguro".
O lançamento de "Toque de Silêncio" vai coincidir com uma campanha publicitária que, Flávio Alves promete, será escandalosa. O autor não revela detalhes sobre o evento por medo que a Marinha consiga, de alguma maneira, evitar a divulgação do livro.
Alves acha que, quando "Toque de Silêncio" for publicado, "outros militares vão aparecer, querendo contar a sua história".
O autor já tem, inclusive, planos de escrever um segundo livro, intitulado "Nos Porões do Minas Gerais", contando a história de uma suposta festa gay que teria ocorrido no porta-aviões, em 1993.
"É uma história que resultou em muitos militares presos e alguns expulsos. É uma história com elementos muito engraçados e também de caça às bruxas", diz Alves.
O ex-militar hoje vive em Nova York, onde trabalha como enfermeiro e estuda inglês. Ele quer cursar faculdade de ciências políticas.
No futuro, Alves sonha lançar "Toque de Silêncio" nos EUA. Em Nova York, milita no Grupo Brasileiro de Gays e Lésbicas.
No Rio, onde está no momento, Alves afirma estar com medo de sofrer um atentado. "Evito sair de casa. Tenho medo de algum maníaco. Não quero que a pedra que atingiu o comandante me atinja."
O comentário é uma referência ao coronel Zani Maia, que, meses após ser flagrado tendo relações sexuais dentro de um carro com um homem, no Rio, foi golpeado com uma pedra na cabeça e está hospitalizado.
Alves afirma ter recebido ameaças, ao começar a escrever "Toque de Silêncio", de militares gays, da Marinha, que temiam ser citados no livro. "Eles achavam que eu estava cometendo uma traição", diz ele.
(MSy)

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