São Paulo, segunda-feira, 5 de maio de 1997
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Governo inglês promete permissão

PAULO HENRIQUE BRAGA
DE LONDRES

O governo trabalhista, eleito na última quinta-feira, se comprometeu durante a campanha eleitoral a alterar o veto à presença de homossexuais nas Forças Armadas britânicas.
As regras vigentes dizem que "qualquer pessoa que admita, demonstre comportamento ou facilite a homossexualidade terá a renúncia pedida ou será expulsa".
Se há suspeita de que um militar é homossexual, o Departamento Especial de Investigações das Forças Armadas entra em ação.
Segundo Duncan Lustig-Prean, da organização Rank Outsiders, os suspeitos são seguidos e sua vida pessoal é investigada. A organização dá apoio a militares e ex-militares homossexuais.
O departamento chega a colocar câmeras escondidas na entrada de locais frequentados por gays para conseguir provas. Ele disse que a política é de "caça às bruxas".
Os interrogatórios incluem perguntas íntimas sobre práticas sexuais e se o acusado conhece outro militar gay. Lustig-Prean, 38, se ligou à organização após ser expulso da Marinha em 95.
"Eu não tinha amigos gays, não ia a clubes ou bares gays, você fica isolado e paranóico. Eu estava sendo vítima de chantagem de uma pessoa que apenas suspeitava que eu era gay e passou a querer dinheiro. Fui ao meu superior e o denunciei", disse à Folha.
Lustig-Prean, que era capitão de fragata e combateu na Guerra das Malvinas, foi preso e expulso da Marinha após confessar ser homossexual. Pouco antes, foi apontado como assessor militar do primeiro-ministro John Major.
Ele tem comandado uma campanha pelo fim da discriminação, tentando mostrar à opinião pública que o fato de uma pessoa ser homossexual não impede a realização de tarefas do serviço militar.
"Nossa mensagem é essa: aqui estamos nós, seus filhos e filhas, de uniforme. Tudo o que estamos pedindo é para continuar no trabalho que escolhemos."
Dois casos vão ser analisados em um prazo de um ano e meio, na Corte Européia de Direitos Humanos e na Corte Européia de Justiça.
Lustig-Prean disse não acreditar que o governo trabalhista vá alterar a política oficial antes da decisão das cortes européias.
No primeiro tribunal, a argumentação é baseada no princípio do respeito à vida privada de cada um. Na corte judicial, se baseia em legislações trabalhistas européias, que proíbem discriminação.

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