São Paulo, segunda-feira, 5 de maio de 1997
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Múlti de telefonia se antecipa a concessão

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

Com apenas uma licença provisória para testes no Brasil, os acionistas do projeto Iridium -maior sistema de telefonia móvel global em andamento no mundo- decidiram fazer um investimento de risco no país.
Convencidos de que obterão a licença definitiva do governo FHC, eles já investiram US$ 40 milhões na construção de uma estação terrestre no Rio, que atenderá os futuros clientes do sistema na América do Sul.
O Iridium é um megaconsórcio internacional para lançamento de 66 satélites que transmitirão voz (telefonia), fax e dados de qualquer ponto do planeta. O projeto foi orçado, inicialmente, em US$ 4,5 bilhões, mas as projeções atuais já ultrapassam US$ 5 bilhões.
O sistema está sendo financiado por vários consórcios regionais. A Iridium Sudamerica tem 8,8% das ações da Iridium Internacional. A cadeia de acionistas envolve ainda um representante em cada país.
Os acionistas da Iridium do Brasil são o grupo Inepar, do Paraná, e o fundo de pensão dos funcionários do Banco Central, Centrus, que também participam da Iridium Sudamerica.
O Ministério das Comunicações ainda não divulgou as normas sobre o funcionamento do serviço no Brasil, mas o presidente da Iridium Sudamerica Corporation, Cleofas Uchôa, diz que "o bom senso" é a garantia dos investimentos que estão sendo feitos no Rio. Em outubro de 96, o ministro Sérgio Motta autorizou a Iridium a usar uma faixa de frequência para testar a emissão e recepção dos sinais entre o Brasil e os satélites.
Em janeiro deste ano, o ministro assinou nova portaria autorizando o uso de frequência também para testes dos aparelhos telefônicos.
A empresa interpretou a autorização como sinal de que o governo brasileiro não vai se opor à comercialização do serviço no país e iniciou a construção de suas instalações no país. Até agora, só um país da América do Sul, a Venezuela, deu autorização definitiva para funcionamento do Iridium. A Colômbia não quer autorizar, nem sequer, a passagem dos satélites sobre o país. A situação também está complicada na Argentina.
Uchôa diz que a aprovação é uma questão apenas de tempo. Segundo ele, se o governo brasileiro não autorizar a comercialização do Iridium -hipótese que considera "remota"- as instalações do Rio serão usadas para atender os demais países da América do Sul.
Os investimentos no Rio estão sendo feitos pela Iridium Sudamerica, que já contratou 27 empregados no Brasil e ocupa um andar inteiro de um edifício em Ipanema.
A empresa está reformando as antigas instalações da Cosigua (Companhia Siderúrgica da Guanabara), em Santa Cruz (zona oeste do Rio), para instalar os equipamentos que farão a conexão do sistema Iridium com a rede pública de telefonia.
Esta base é chamada de "gateway" porque funcionará como portão de entrada do sistema no país. Além deste "gateway", serão montadas quatro antenas parabólicas (duas em Itaguaí e duas em Guaratiba, na região metropolitana do Rio) para emitir e receber os sinais.
Seriam necessárias apenas duas parabólicas, mas elas estão sendo montadas em dobro porque, em caso de tempestade, um sistema substituirá o outro.
Os satélites do projeto Iridium ficarão posicionados a uma distância de 780 km da terra, cobrindo todo o planeta. A inauguração do sistema está prevista para setembro do ano que vem.
Os satélites funcionarão como centrais telefônicas no espaço. Os assinantes usarão aparelhos telefônicos pouco maiores do que os celulares convencionais existentes hoje. Os aparelhos -que serão fabricados pela Motorola e pela Kyocera japonesa- possuem uma antena que emite os sinais para o satélite mais próximo.
Uma pessoa que estiver na Floresta Amazônica, por exemplo, poderá fazer uma ligação direta para o Japão, sem passar pela rede telefônica brasileira.
As ligações custarão de US$ 2,00 a US$ 5,00, dependendo da distância chamada.
Se este mesmo usuário ligar para um assinante de um telefone comum em São Paulo, sua chamada subirá direto para o satélite e descerá para a base terrestre no Rio de Janeiro, chegando a São Paulo via Embratel. Por fim, entrará na rede da Telesp.

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