São Paulo, segunda-feira, 5 de maio de 1997
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...E Achille Castiglioni criou o design

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

São Paulo ganha ares milaneses a partir de hoje. A capital mundial do design se transfere para a capital paulista com a exposição "La Casa Italiana", no MAM, e a mostra de móveis e objetos de Achille Castiglioni, na Firma Casa, com a presença do mestre italiano (veja texto nesta página).
Castiglioni vai proferir duas palestras na cidade: no MAM (amanhã, às 18h) e na FAU (quarta, às 10h). "Quero visitar o museu projetado por Lina Bo Bardi (Masp). Não poderei ver tudo o que quero, mas espero ser bem guiado pelos amigos", disse o designer em entrevista exclusiva à Folha por telefone, de seu escritório em Milão.
Nascido em 1918, Castiglioni entrou para a história do design cedo. No início dos anos 40, apresentou na 7ª Trienal de Milão a peça "Phonola", um novo modelo de rádio, em plástico, que conciliava projeto e as estruturas da produção industrial. Era a semente do design industrial. O fato, porém, não o colocou como um ardoroso defensor da submissão do design às normas da industrialização.
"As normas técnicas e os métodos industriais são apenas etapas com as quais se deve trabalhar. A história e os problemas sociais são mais importantes que os desenvolvimentos da tecnologia. A técnica é um meio, que se desenvolve, mas não tem a mesma importância que o comportamento do homem", disse.
Castiglioni poderia também ser chamado um "pré-pós-moderno", haja visto sua afinidade com a utilização de formas tradicionais e arquetípicas da cultura italiana em produtos como a luminária de mesa "Taccia", que tem a base com as linhas dos aquecedores de casa italianos e cúpula que remete aos vidros toscanos.
Embora continuem sendo produzidas, muitas dessas peças integram os acervos dos mais importantes museus do mundo, como o Victoria and Albert Museum (Londres), e o MoMA, em NY. Além de possuir nove peças do designer em sua coleção permanente de design, o MoMA lhe dedica uma retrospectiva no final do ano.
"As formas arquetípicas de uma memória coletiva são importantes na minha produção, mas o componente principal muda a cada produto. Não deve existir uma regra fixa na produção de um designer. Isso seria um preconceito."
Racionalidade, elegância, respeito ao ser humano são as características de sua produção. "Meus projetos devem responder mais às necessidades humanas que atender a resultados formais. Um bom projeto não nasce da ambição de deixar uma marca, mas da vontade de instaurar uma troca, mesmo que mínima, com um personagem desconhecido, aquele que usará o projeto projetado por mim", disse.
Esse respeito reflete-se ainda em sua relação com o artesanato, segundo ele, uma etapa da produção do design. "A sorte dos italianos foi abrigar a atividade de pequenos empreendedores, artesões mesmo, que ainda hoje desenvolvem protótipos em função de uma função industrial", disse.
(CF)

Evento: palestras de Achille Castiglioni
Quando: amanhã, às 18h, no MAM (portão 3 do parque Ibirapuera, tel. 011/549-9688), e quarta, às 10h, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (r. do Lago, 876, Cidade Universitária, tel. 011/818-4801).
Quanto: entrada franca

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