São Paulo, segunda-feira, 5 de maio de 1997
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Cesaria Evora retorna sem saudade para Fest in Bahia

SYLVIA COLOMBO
DA REDAÇÃO

A cantora cabo-verdiana Cesaria Evora, 54, não canta mais o exílio, pois já voltou de Paris para a Ilha de São Vicente, onde nasceu. Também não emite mais com sua voz as agruras do povo cabo-verdiano dominado por Portugal -tema que adotou no início da sua carreira, nos anos 50-, pois a colonização terminou em 1975.
Se antes eram o protesto e a saudade (que ela pronuncia 'sodade'), hoje suas preocupações são mais abstratas, os ritmos mais dançantes e despreocupados e a natureza mais presente.
"Chover aqui, chove muito pouco, é um azar muito grande que Cabo Verde tem", disse a cantora, em entrevista à Folha, por telefone, de sua casa, na Ilha de São Vicente.
Cesaria se prepara para uma terceira visita ao Brasil. Já esteve aqui em 94, fazendo shows no Sesc Pompéia -quando se apresentou ao lado de Caetano Veloso- e em 96, no Tom Brasil.
Pela primeira vez vai visitar também Rio de Janeiro e Salvador, dentro da programação do Fest In Bahia, evento que acontece nos dias 8, 9, 10 e 11 de maio nas três cidades (veja programação abaixo). "Me sinto em casa no Brasil, aí entendem muito bem a nossa música", disse.
Nostalgia
"O cabo-verdiano é nostálgico, muitos estão longe da terra e os que ficam nas ilhas vivem assistindo a passagem dos barcos", diz Cesaria.
O país viveu de 1460 a 1975 sob o domínio português. Durante o período colonial, serviu de entreposto comercial, o que por um lado contribuiu para o desenvolvimento econômico da ilha e, por outro, foi peça fundamental para a formação cultural da região.
"Portugal, África e Caribe se encontram na música de Cabo Verde", diz ela. A música brasileira também é uma de suas influências, especialmente as canções populares da década de 30. "Também ouço Angela Maria e Gilberto Gil".
Cesaria começou a cantar nos anos 50, sob a influência de uma "lenda" local, o cantor e compositor B. Leza. Nos anos 60, passou a cantar no rádio, mas permaneceu quase anônima até o final dos anos 80, quando a febre da world music -surgida então na França- a descobriu.
Desde então gravou seis discos na Europa: "Cesaria" (87), "La Diva aux Pieds Nus" (88), "Mar Azul" (91), "Miss Perfumado" (91) -disco que chegou a vender 100 mil cópias na França e 30 mil em Portugal- e "Cesaria" (95).
"Cabo Verde"
Agora, está divulgando o seu último trabalho, o recém-lançado "Cabo Verde", que sai aqui no Brasil pela BMG. "Dei esse nome porque não aguento mais ouvir as pessoas perguntarem de onde vim e onde é Cabo Verde", diz ela.
Musicalmente, a mezzo soprano abusa neste disco das coladeiras, ritmo próximo do calipso caribenho, e deixa as mornas, anteriormente o básico de seu repertório, para uma seção mais discreta.
A morna é uma canção típica do Cabo Verde, baseada em violão e cavaquinho, e se aproxima do fado português.
Também estão presentes os alegres batuques e os funanás, ritmos de influência africana.
"A world music conseguiu, no afã de abrir mercados, fazer com que muita gente ouvisse coisa diferente, mas não gosto que digam que faço world music, faço e sempre fiz música de Cabo Verde."
Além de Cesaria Evora, também o grupo português Os Delfins lança seu novo disco, "Saber A~mar", dentro do Fest In Bahia.
Os Delfins são o conjunto mais famoso de Portugal e já visitou o Brasil em 96.
Entre as atrações brasileiras estão Gal Costa, Margareth Menezes, Marisa Monte, Frejat e Gabriel, o Pensador.

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