São Paulo, segunda-feira, 5 de maio de 1997
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'Parque das Árvores Queimadas' causa discussão

ISABEL GNACCARINI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Cerca de 10 toneladas de esculturas do "Parque das Árvores Queimadas" teriam sofrido uma crueldade ecológica, segundo o artista plástico baiano Zenildo Barreto. E dentro de um dos santuários de arborização da cidade de São Paulo -o parque do Ibirapuera.
A celeuma envolve as 150 obras trazidas ao parque do Ibirapuera, em setembro do ano passado, para a exposição que aconteceu durante a Festa da Primavera. Zenildo, que está em São Paulo, veio investigar o possível desaparecimento de metade de seu acervo, cerca de 70 obras.
Segundo ele, há indícios de que a administração do Ibirapuera teria mandado cortar boa parte das peças, pois elas estariam atrapalhando por seu volume.
"Ao visitar o Ibirapuera esta semana, pude constatar o desaparecimento das obras mais dramáticas da exposição", diz Zenildo. Ele faz referência a uma série de esculturas em forma de cruzes e que, segundo ele, pelas dimensões, devem ter sido cortadas para caber nos depósitos do Ibirapuera.
A responsável pela administração do parque municipal, Sônia Nápoli, desmente as acusações. "Nada foi destruído. As peças, porém, foram abandonadas dentro do Ibirapuera. As que sobraram da exposição foram recolhidas às unidades do parque", diz Sônia.
"Eu simplesmente não posso admitir que anos de trabalho de recolhimento destes troncos queimados na área da Mata Atlântica, usados em exposições pelo mundo com o objetivo de protestar contra o desmatamento no Brasil e de educar crianças, venham a sofrer tal tratamento", afirma o artista.
Na secretaria, o assessor de imprensa Paulo Antunes alega ser difícil dar conta do número exato das obras. Ele informou que o setor jurídico da secretaria está tomando providências para apurar o ocorrido.
Entidades não-governamentais da área ambientalista e artistas, entre os quais o poeta Capinam e o compositor Gilberto Gil, apóiam Zenildo no repúdio ao acontecido.
Cinzas
A preocupação ecológica, além da estética, levaram Zenildo a escolher a Mata Atlântica como alvo de seu trabalho dentro da Cabincla - Casa Baiana para a Integração Latino-Americana, ONG instalada em Salvador.
Zenildo recolhe há anos troncos de árvores queimadas e os transforma em ícones da destruição em sua exposição itinerante "Parque das Árvores Queimadas".
Em junho, o artista vai instalar sua primeira exposição permanente fora do Brasil: em Gardenne, no sul da França. Para a inauguração, parte do material que está no Ibirapuera deve ser levado para lá.
Mas o "Parque das Árvores Queimadas" também será plantado no Brasil, na cidade de Dario Meira, no interior da Bahia, a partir de setembro.

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