São Paulo, segunda-feira, 5 de maio de 1997
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Trem superlotado mata 100 no Zaire

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Mais de cem refugiados hutus de Ruanda morreram pisoteados e sufocados ontem num trem que os trazia de um campo de refugiados no Zaire. Eles seriam transportados de avião até o seu país, segundo fontes das Nações Unidas.
"Acho que é um dos mais terríveis eventos que já vi em todos os meus anos de trabalho", disse Kilian Kleinschmidt, chefe do escritório da agência UNHCR das Nações Unidas em Kisangani.
Jornalistas e voluntários viram dezenas de corpos rolando dos seis vagões abertos quando o trem chegou na estação de Kisangani.
Aqueles que estavam comprimidos dentro dos vagões e ainda viviam pularam quando o trem parou, depois de uma viagem de duas horas desde o campo de Biaro, 41 km adiante. Centenas de pessoas ficaram feridas. Mais de 50 delas estão em estado grave.
Autoridades rebeldes esperavam cerca de 2.800 refugiados, mas é certo que os vagões carregavam centenas de pessoas a mais.
Sobreviventes disseram que milhares de refugiados pularam para dentro do trem quando ele deixou a estação perto de Biaro. Em meio à entrada descontrolada dos refugiados, crianças e dezenas de adultos doentes foram esmagados no fundo dos vagões.
Testemunhas que observavam a chegada do trem não sabiam que entre os milhares de refugiados em pé nos vagões estavam os corpos das dezenas de pessoas que morreram durante a viagem.
Três fotógrafos que viajavam no vagão não tinham idéia do que estava acontecendo. "Só quando ele parou, pudemos ver o que havia acontecido. No começo da viagem vimos algumas pessoas gritando para o trem parar. Avisamos o condutor, mas ele disse que não havia problema", disse Stephen Ferry, fotógrafo americano.
"Temos de ter controle sobre os trens se somos responsáveis por eles", disse Paul Stromberg, porta-voz da UNHCR.
Funcionários de equipes de socorro lamentaram que eles não tenham tido controle sobre a retirada dos refugiados do campo, a despeito das promessas de cooperação do líder dos rebeldes, Laurent Kabila.
Os campos de Biaro e Kasese têm mais de 80 mil refugiados ruandeses, que integraram o grupo de mais de 1 milhão de hutus que deixaram Ruanda em 1994.
Mais de 60 refugiados morrem todas as noites em Biaro, e centenas de outros morrerão nos próximos dias, a menos que medidas médicas e sanitárias sejam tomadas no local, segundo funcionários de agências de ajuda humanitária.
Outros 1.132 refugiados voaram para Kigali (capital de Ruanda) ontem, aumentando o número de pessoas transportadas para 5.035, desde que a ação começou, na terça-feira passada.

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