São Paulo, segunda-feira, 5 de maio de 1997
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ECONOMIA BURRA

É quase consenso que o governo deve buscar o equilíbrio orçamentário, o que implica, numa das pontas, conter gastos. Mas há economias burras, que cortam uma pequena fração de despesa hoje para gerar um gasto muito maior no futuro.
É o caso das campanhas brasileiras de vacinação. O mais grave é que os efeitos do problema não se limitam ao numerário governamental. Têm impacto concreto sobre a saúde e a própria vida de cidadãos brasileiros.
Não cabe buscar responsáveis nas instituições envolvidas na questão da vacinação. Mas é incompreensível que o Brasil, um dos poucos países que erradicaram a pólio com vacinas, tenha regredido tanto nesse campo.
O sarampo, quase varrido do território nacional, voltou com força em muitas regiões. Mais grave, porém, parece ser o caso da hepatite B.
Trata-se de uma moléstia infecto-contagiosa com um potencial de contaminação muito superior ao da Aids -além de por sexo e sangue infectado ela pode ser transmitida por saliva e fezes- cujas sequelas são frequentemente fatais: hepatite crônica, cirrose e câncer hepáticos.
A diferença fundamental entre a Aids e a hepatite B é que para esta última existe uma vacina eficaz -cuja dose imunizante, aliás, custa apenas cerca de R$ 1,00 para o governo. Como o vírus da hepatite B (HBV) vem se propagando muito mais rápido que o HIV e em certas regiões essa variedade de hepatite já é endêmica, torna-se incompreensível a decisão governamental de reduzir a compra de 40 milhões de doses de vacina para para 10 milhões este ano.
A resolução se torna até surrealista quando se constata que algum tecnocrata decidiu priorizar a vacinação de crianças de até um ano; estas, por não terem vida sexual ativa, são um dos grupos de menor risco.
Campanhas de vacinação devem ser amplas, duradouras e bem arquitetadas; de outra forma, joga-se, de fato, dinheiro fora. Chega de economia burra, principalmente quando o que está em jogo é a saúde da população.

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