São Paulo, segunda-feira, 5 de maio de 1997
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DILEMAS DA ESQUERDA

Dois artigos publicados na edição de ontem do caderno Mais! desta Folha abordam as grandes dificuldades das esquerdas nestes tempos de triunfo do liberalismo econômico.
O filósofo político francês Jacques Rancière mostra que o debate sobre o racismo em seu país indica uma indefinição da esquerda e da direita. Para ele, ambas têm a mesma idéia "realista" do problema. Concorrem apenas para convencer os eleitores sobre quem pode resolvê-lo.
Na França, a direita se tem mostrado eficiente nesse convencimento. Segundo o autor, que já fez parte do grupo de Louis Althusser (uma dissidência do PC local), ela cresce nas urnas ao apresentar "as verdadeiras soluções", racistas, aumentando a aceitação de seu discurso. À esquerda tem restado a difícil tarefa de tentar resolver a questão sem desconsiderar suas implicações éticas.
Alain Touraine, também francês, lembra que a perda de rumo das esquerdas não se restringe à França. O sociólogo nota que, em toda a Europa, elas se enfraqueceram, quer pela paralisia, como na França e na Alemanha, quer pela perda de poder, como na Espanha. Mesmo no Reino Unido, a estrondosa vitória dos trabalhistas não deverá trazer grandes mudanças ideológicas, dada a aproximação do discurso de Tony Blair com o dos conservadores.
No Brasil, os partidos de esquerda ainda não escaparam do estado de perplexidade diante da estabilização econômica e outros acontecimentos. Coube a um movimento de cidadania a mobilização de setores da sociedade, colocando-se à frente das teorias e dos partidos. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST, surpreendeu as instituições políticas com uma demanda que preenche um espaço deixado por sindicatos e partidos esvaziados.
Resta aos mais otimistas a tese de Touraine, de que se pode esperar do governo uma ação voltada à "cidadania real de todos". Movimentos não-governamentais podem contribuir para acelerar esse processo.

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