São Paulo, terça-feira, 6 de maio de 1997
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Latinos enfocam fábula e caos

EDER CHIODETTO
EDITOR-ADJUNTO DE FOTOGRAFIA

O 3º Mês Internacional da Fotografia, realizado pelo Nafoto (Núcleo dos Amigos da Fotografia), será aberto oficialmente hoje, às 19h, no MIS (Museu da Imagem e do Som), em São Paulo, com um panorama da fotografia latina contemporânea.
São 24 fotógrafos representando Equador, Peru, Venezuela e Chile com imagens que variam do fotojornalismo aos mais variados experimentalismos.
"Desventuras e Martírios" é o nome da belíssima coletiva equatoriana instalada no primeiro andar do prédio.
Os trabalhos de Lucia Chiriboga e Maria Teresa Garcia, que abrem a mostra, dialogam entre si fundindo fotografia, pintura, desenho e colagem.
São leituras intimistas e femininas dos arquétipos da cultura latina. A mulher, o índio e o sonho, envoltos numa atmosfera rarefeita, mas sempre tensa, ganham dimensões de fábula. Um campo aberto para as mais diversas e ricas significações.
Em "Nenhum Extremo É Tão Distante", os oito fotógrafos peruanos expõem o caos em temas como Aids, violência, loucura, religião e movimentos migratórios.
Destaca-se o trabalho de Cecilia Larrabure com crianças que perderam suas famílias por causa da violência terrorista. Estima-se que, em função dos atentados, existam cerca de 50 mil órfãos no país.
O bom uso da iluminação natural e o enquadramento personalista de Miguel Carrillo fazem do ensaio sobre hospício um outro destaque entre os peruanos.
Loucura também é o tema de Paz Errázuriz, que integra a mostra chilena. Ele fotografou vários casais de doentes mentais internados em hospícios. São imagens perturbadoras.
Ao contrário de Carrillo, que realiza uma leitura mais subjetiva da loucura, Paz faz retratos destacando o olhar fixo e indecifrável desses internos.
Atrevimentos
Os "Gestos do Atrevimento" dos fotógrafos venezuelanos são mais bem representados pelo absurdo Nelson Garrido com suas releituras nada comportadas da crucificação de Cristo.
São fotos multicoloridas em que modelos e o próprio fotógrafo aparecem sendo crucificados entre mulheres nuas e muitos símbolos fálicos.
"O sacrifício se converte em campo sexualizado intensamente rebelde às convenções tradicionais", diz a curadora Maria Teresa Boulton. Na verdade, é puro escárnio e diversão.
Gestos de atrevimento também são os trabalhos de Luis Brito e da dupla Los Ricar2, formada, obviamente, por dois Ricardos. Nesses casos, o atrevimento está na coragem em expor trabalhos tão pífios.
Brito cai no clichê dos closes de velhinhos de pele enrugada, para nada significar além do óbvio. Pura frivolidade.
Os Ricardos exibem retratos de empresários feitos para revistas empresariais. Provavelmente são bons para essas publicações, mas é difícil de entender o que estão fazendo no meio desta exposição.

Mostra: Exposições Contemporâneas Sul-Americanas
Onde: MIS - Museu da Imagem e do Som (av. Europa, 158, Jardins, região oeste, tel. 011/853-1498)
Vernissage: hoje, às 19h
Quando: de 7 de maio a 1º de junho; ter a dom, das 14h às 22h
Quanto: entrada franca

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