São Paulo, quinta-feira, 8 de maio de 1997
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Steinbruch poderá demitir funcionários

SILVANA QUAGLIO
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

O presidente do Conselho de Administração da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), Benjamin Steinbruch, restringiu a comemoração pela façanha de arrematar a Companhia Vale do Rio Doce, desbancando o empresário Antonio Ermírio de Moraes, a um animado jantar em dois atos, na noite de anteontem.
A entrada foi no hotel Méridien e o fechamento no badalado restaurante carioca Antiquarius. Mas ontem eram só negociações.
Steinbruch, que usou uma "gravata da sorte" (a mesma por uma semana) para o leilão da estatal, afirmou que o fato de a Vale deixar de ser estatal reduz custos (do ponto de vista de compra, de venda e de prestação de contas ao governo) e já admite a possibilidade de demissões na empresa.
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Folha - Como foi o dia de ontem (anteontem), da grande decisão?
Benjamin Steinbruch - A sorte estava traçada, já. A gente tinha muita confiança de que ia fazer um bom papel nesse leilão. Eu tinha certeza de que nós íamos ganhar.
Folha - Por que tanta confiança?
Steinbruch - Porque nosso modelo é o mais apropriado para uma grande companhia como a Vale: o controle compartilhado, profissionais na parte executiva, não participação de revendedores e de clientes no consórcio. Uma série de coisas que nos davam a certeza de ter uma proposta melhor.
Folha - Como foram definidos os lances?
Steinbruch - Nós chegamos sem nenhuma estratégia pré-determinada, com a condição de os três resolverem, durante os lances, a fazer o máximo. Foi essa flexibilidade que nos fez ganhar o leilão.
Folha - Por que um fundo de pensão compra uma empresa como a Vale?
Steinbruch - Porque é o tipo de investimento que eles gostariam de ter: bons ativos, investimento de capital intensivo e dividendos.
E o risco é baixíssimo. É uma companhia sob medida para investimento de fundos de pensão. Assim como é uma Petrobrás, companhias geradoras de energia etc.
Folha - A Valia (fundo de pensão dos funcionários da Vale) vai aderir à Valepar?
Steinbruch - A Valia está conversando conosco por intermédio do Investvale (fundo de investimento dos funcionários). Até amanhã (hoje) devemos ter uma posição final.
Folha - Quem financiou o Consórcio Brasil?
Steinbruch - O consórcio não é financiado. Cada um pode vir a ser financiado individualmente. Os fundos de pensão, por exemplo, vão usar capital próprio. A CSN adotou a linha de pegar financiamento. O Nations (Bank) provavelmente é capital próprio. O (banco de investimentos) Opportunity deve ser uma parte financiamento e uma parte capital próprio.
Folha - O que a privatização fez com a CSN?
Steinbruch - Ah, mudou muito a empresa. Primeiro, nós abrimos a empresa em outras três para dar maior agilidade ao complexo.
Tivemos de fazer uma reestruturação para adequar a empresa aos nossos planos de participar do processo de privatização. Com isso, ela ganhou em termos de garantia de produção com custo compatível, ganho de produtividade. Ganhou muito do ponto de vista financeiro e comercial.
Folha - Mas houve demissões...
Steinbruch - Sim. A redução de quadros é uma necessidade em função de investimentos. À medida em que se faz investimentos em equipamentos, em informática, você reduz o número de funcionários. É natural. A CSN estava muito atrasada em investimentos.
Folha - Qual é a situação da Vale?
Steinbruch - São empresas completamente diferentes. A Vale está mais estruturada, não teve o período ruim que a CSN teve. Participa como um "player" importante do mercado mundial. Tem essa visão global e é competitiva. A mudança será mais de conceito empresarial. Mas é claro que podem ser feitas reduções de pessoal.

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