São Paulo, quinta-feira, 8 de maio de 1997
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Laudos apontam homicídio, não extorsão

CRISPIM ALVES

CRISPIM ALVES; JOÃO PAULO SOARES
DA REPORTAGEM LOCAL

IC e Unicamp confirmam que tiro dado por PM matou conferente, mas não acusam prática extorsiva

JOÃO PAULO SOARES
O tiro que matou o conferente Mário José Josino partiu da arma do soldado Otávio Lourenço Gambra, o Rambo, durante ação da Polícia Militar no dia 7 de março na favela Naval, Diadema (ABCD).
A conclusão está nos laudos do IC (Instituto de Criminalística) da Polícia Civil e do Laboratório de Fonética Forense da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), divulgados ontem.
Rambo e outros nove PMs estão presos há mais de um mês, acusados de torturar civis e de ter matado Josino. Todos as cenas foram gravadas por um cinegrafista amador. As imagens foram exibidas na TV no dia 31 de março.
O episódio de Diadema criou uma enorme crise na Polícia Militar, que pode acabar perdendo poder com a proposta de emenda constitucional do governador Mário Covas (PSDB).
Apesar da mesma conclusão, os laudos apresentam versões diferentes com relação à parte do corpo de Josino atingida pela bala (leia texto nesta página). Os dois órgãos utilizaram recursos de computação gráfica. Em seus depoimentos, Rambo afirmou que atirou para o chão.
O laudo do IC foi solicitado pela Justiça de Diadema, o da Unicamp, pela CPI de Diadema da Assembléia Legislativa. Os dois órgãos analisaram as imagens gravadas pelo cinegrafista amador.
Revelação
Os laudo elaborado pelos peritos da Polícia Civil revela um outro dado: a possibilidade de um 11º PM ter estado na favela em um dos dias das gravações. O homem, com trajes civis, aparece encostado em um carro da polícia em uma das imagens (leia texto nesta página).
Tanto o IC quanto a Unicamp tentaram descobrir se as imagens e sons indicavam prática de extorsão por parte dos PMs, mas nenhum dos dois relatórios foi conclusivo nesse ponto.
"Não há nenhuma imagem ou som que possam caracterizar extorsão sem ambiguidade", disse o foneticista Ricardo Molina, chefe da equipe de perícia do Laboratório de Fonética. Segundo ele, algumas cenas deixam dúvidas quanto a isso e são de difícil interpretação.
Para o presidente da CPI, deputado Carlos Sampaio (PSDB), o laudo produziu provas inéditas sobre a morte de Josino e possibilitará a responsabilização penal de Rambo por homicídio.
Sampaio acredita, no entanto, que dificilmente a CPI encontrará novos meios para provar a existência de prática extorsiva.
"Nossa esperança era que a análise das imagens chegasse a isso. Agora, ficamos na dependência de provas testemunhais", disse.

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