São Paulo, quinta-feira, 8 de maio de 1997
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O Brasil, condenado à recessão (burra)

ALOYSIO BIONDI

O governo FHC começou a impor freios à economia, aumentando de 6% para 15% o imposto (IOF) cobrado sobre os empréstimos ao consumidor, bem como sobre os gastos financiados por cartões de crédito ou cheque especial. É só o início de uma série de medidas ostensivamente destinadas a "esfriar" a economia e aprofundar a recessão -por meio da redução do consumo e da produção, para reduzir as importações.
Tudo, como esta coluna advertia (e temia) há exatamente um ano: a política burra de escancaramento às importações provou um "rombo" gigantesco, de nada menos de US$ 15 bilhões por ano (a genial equipe FHC conseguiu, na verdade, provocar um buraco de inacreditáveis US$ 30 bilhões por ano, já que, antes de ela chegar ao poder, o Brasil tinha saldos positivos de US$ 15 bilhões por ano).
O governo não confessa, os analistas e economistas polianas silenciam, mas o Brasil já está entrando em um período de escassez aguda de dólares, com todas as turbulências previsíveis. Não apenas por causa do monstruoso rombo na balança comercial. Há também alguns bilhões em empréstimos de dólares contraídos por empresas brasileiras no exterior, em 1994 e 1995, e que estão vencendo nos próximos meses.
Há também, por causa do "escancaramento" da economia, o violentíssimo salto na remessa de lucros pelas filiais das multinacionais, calculado em uns US$ 3 bilhões este ano. Como há as remessas de dólares, de filiais para as multinacionais, a pretexto de pagar a "tecnologia" fornecida pela matriz. Para começar, de nada adianta o governo "esfriar" a economia, reduzir o consumo: a importação de peças, componentes e até matérias-primas aumentou brutalmente, destruindo a produção nacional, com a "abertura" maluca implantada pela equipe FHC.
Reduzir a produção para reduzir as importações é insuficiente -e burro, mais uma vez. O Brasil vai cortar produção, aumentar o número de desempregados, perder arrecadação de impostos (elevando o déficit do Tesouro) e ampliar a recessão -por obra e graça de uma equipe econômica e sua política de "modernização" da economia.
Sem foguete
Ao longo do ano passado, analistas e economistas "moderninhos" soltavam foguetes cada vez que a equipe FHC/FMI/BNDES anunciava qualquer medida para "aumentar as exportações" e eliminar o "rombo". Endossavam, com o foguetório, o otimismo oficial. E agora, que a crise cambial se aproxima?
México ótimo
Dado sempre esquecido nas análises sobre o México: o país (assim como a Espanha) sempre contou com violentíssima entrada de dólares trazidos pelo turismo, diante de sua vizinhança com os EUA. Coisa de US$ 10 bilhões a US$ 15 bilhões por ano.
Vale dizer: no caso do México, o "rombo" da balança comercial sempre foi parcialmente coberto pela enxurrada de dólares do turismo. A situação do Brasil é oposta: tem saldo negativo também nesse setor. E o "rombo" do turismo também está dando saltos, calculando-se que chegará aos US$ 3 bilhões ou mais neste ano.
Mais risco
No final de abril, o governo FHC havia reduzido o IOF sobre os dólares que entram no país para aplicação na especulação financeira. Os tais dólares que podem sair do país a qualquer momento. Duas faces de uma só política: perda de receita de impostos sobre a especulação, mais impostos sobre o consumidor comum que recorre ao crediário, cartão, cheque especial.
Atenção, a alíquota de 15% para o IOF é elevadíssima, uma brutalidade, diante dos níveis de inflação atual. Confisco?
Pós-safra
O consumo já está contido no país com os vergonhosos reajustes do salário mínimo e aposentadorias, desde o ano passado; e o congelamento, há três anos, dos vencimentos do funcionalismo.
De quebra, há também brutal confisco na renda do consumidor diante dos brutais reajustes de tarifas de água, luz e telefones dos últimos anos -feitos, inclusive, de forma vergonhosamente disfarçada.
Para os telefones, o reajuste de tarifas anunciado para ligações locais foi de 30%; na verdade, ele chegou aos 100%. Por quê? Porque o pulso das ligações foi reduzido de 3 para 2 minutos.

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