São Paulo, quinta-feira, 8 de maio de 1997
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Filosofando sobre o sistema de ida-e-volta

MATINAS SUZUKI JR.
DO CONSELHO EDITORIAL

Meus amigos, meus inimigos, os dois gols de diferença que o Flamengo obteve sobre o Palmeiras, pela Copa do Brasil, mostram o quanto o sistema mata-mata pode distorcer o rumo de uma competição.
Evidentemente, não estou colocando em questão a vitória do Flamengo, que soube ser eficiente no aproveitamento de duas faltas, uma fora e a outra dentro da área, no segundo tempo.
Estou colocando a questão sob o prisma, digamos assim, da filosofia do futebol.
Quando foi estabelecida a fórmula de decisão de um torneio por meio de um jogo duplo, as chamadas decisões em um jogo de 180 minutos, houve o interesse legítimo em dar uma pitada de justiça: o vencedor do primeiro jogo entra com vantagem no segundo.
Depois, essa intenção de justiça foi ampliada: para compensar a imensa vantagem que leva um time jogando em casa, no sistema mata-mata, foi valorizado o gol obtido no território inimigo.
O poder desse gol que vale por dois é tão grande que, se os atacantes palmeirenses tivessem convertido apenas uma das inúmeras chances que pintaram nos seus pés, o alviverde sairia do Maracanã com a sensação do empate, apesar da derrota.
A regulamentação futebolística resolveu introduzir um certo princípio de equilíbrio no acaso total que existe no sistema mata-mata, sujeito a todas as chuvas e trovoadas extrafutebolísticas.
O conceito de conceder vantagem ao vencedor do primeiro jogo, cria, contudo, uma nova distorção.
Dependendo do resultado do primeiro, o segundo pode virar um jogo apenas para se cumprir o regulamento ou uma partida de desesperados, onde a tática e a técnica futebolística saem derrotada pela necessidade de gols que o time A ou B precisa marcar (deixa de ser um jogo contra um outro time, para ser um jogo contra o tempo e o placar).
O resultado é que muitas vezes vemos um time sair do segundo jogo como campeão, apesar de ter sido derrotado ou de ter conquistado um empate quase covarde aos olhos de sua própria torcida.
As estatísticas estão aí para mostrar que o vencedor do primeiro jogo tende a conquistar o torneio ou a qualificação que está sendo disputada.
Deve ser por isso que, apesar de ser inteiramente disputada em jogos de ida e volta, a Copa dos Campeões da Europa é decidida em apenas um jogo final, em campo definido antes do início da competição.
Rigorosamente, o saldo de gols, ao ser contado, adultera o sentido da segunda partida. Por outro lado, pode-se argumentar que, se um time ganhou por 6 a 0 no primeiro jogo e depois perdeu por 1 a 0 no segundo, teve uma performance melhor e portanto merece ser campeão.
São pontos de vista diferentes que merecem análise e que mostram o quão difícil é fazer justiça no futebol.
Certo mesmo é que se temos a Copa do Brasil no mata-mata, o Campeonato Brasileiro...

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