São Paulo, quinta-feira, 8 de maio de 1997
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Integração não saiu do discurso político

PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

A proposta de integração cultural entre São Paulo e Rio de Janeiro, formalizada em reunião com os prefeitos Celso Pitta e Luiz Paulo Conde no último dia 23, tem seu maior obstáculo nas divergências dos secretários de Cultura das duas cidades.
Enquanto Rodolfo Konder (SP) quer o intercâmbio em áreas como patrimônio histórico, educação complementar e workshops unindo profissionais, Helena Severo (RJ) propõe, imediatamente, a divisão de custos para trazer eventos como exposições, concertos e shows às duas capitais.
"Se a Helena quiser que nós entremos a reboque dos projetos dela, não vai dar. Queremos um casamento, uma troca de mão dupla. Não vamos discutir projetos, mas sim áreas de interesse comum", afirma Konder.
O secretário paulistano vai além. "Tenho certeza de que o Conde entendeu. Eu sou do Rio, mas muitos cariocas não se deram conta de que São Paulo se tornou uma cidade mais importante. Não vêem que a capital cultural do país não é mais o Rio", diz.
Severo, 45, afirma ser favorável à integração de áreas proposta por Konder, mas já tem pelo menos quatro eventos, para 97, em que considera viável uma cooperação Rio-São Paulo, como a exposição "Mil Evitas", que trará de Buenos Aires, e o festival de teatro Rio Cena Contemporânea.
"Nossa posição sempre foi de agregar. É um aspecto da cultura do carioca não ser bairrista. Isso é até histórico, talvez pelo fato de termos sido capital da República. E não vemos nenhum problema em pegar reboque quando for interessante", afirma a secretária.
Ambos estão, há cinco anos, à frente das respectivas secretarias -mantidos pelos sucessores de César Maia e Paulo Maluf- e administram orçamentos de, em média, R$ 80 milhões ao ano.
A gestão Konder é baseada nos 2.000 eventos mensais que promove na cidade, 95% gratuitos, sendo, a maioria deles, dirigida à população da periferia. Ao mesmo tempo, notabilizou-se pela produção de óperas no Teatro Municipal e espetáculos de música erudita no parque Ibirapuera.
Já Severo afirma não estar interessada na contabilidade dos eventos que sua secretaria promove. Cita, entre seus principais feitos, as reformas do Centro de Cultura Afro-Brasileira, orçada em R$ 110 milhões, e de 70% das 22 bibliotecas da cidade.
Além disso, aponta como uma de suas principais dificuldades o fato de a grande maioria dos equipamentos culturais importantes, como o Teatro Municipal, pertencer ao Estado.
Apesar das diferenças, a união de atividades entre as duas cidades é considerada óbvia pelos dois secretários. Mas, por enquanto, não saiu do discurso político.
Tanto Konder quanto Severo prometeram preparar documentos com suas propostas de integração nas próximas semanas. "Está faltando sentar para haver um acerto técnico", diz a secretária.
Buenos Aires
A objetividade que falta à ligação Rio-São Paulo está presente na terceira ponta do triângulo que formaria o novo "eixo cultural do Mercosul": Buenos Aires.
Konder é um entusiasta da união cultural entre os países do bloco latino-americano, investindo em projetos como o Mercosul Cultural e o 1º Encontro de Escritores do Mercosul, além de ter implantando, em São Paulo, um programa criado em Buenos Aires.
Severo esteve em Buenos Aires e também em Montevidéu na última semana e voltou de lá tendo acertado a vinda de algumas exposições (leia texto abaixo).

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