São Paulo, quinta-feira, 8 de maio de 1997
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Kabila já propõe coalizão anti-Mobutu

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Os rebeldes do Zaire propuseram a formação de um governo de unidade nacional, que excluiria apenas os seguidores do presidente Mobutu Sese Seko.
A informação foi divulgada pela rádio do líder rebelde Laurent Kabila, que irradia da cidade de Bunia, no leste do Zaire. Mobutu está fora do país desde ontem, e especula-se que não volte mais.
Mas ontem ficou claro que as Forças Armadas leais ao presidente ainda não desistiram de lutar na guerra civil. Houve relatos de batalha em Kenge, cerca de 250 km a leste de Kinshasa (a capital do país), com saldo de pelo menos 300 mortos, dos quais 200 civis, segundo testemunhas.
A queda de Kinshasa é questão de dias. Isso leva observadores internacionais a acreditar que a viagem de Mobutu possa ser a primeira etapa do exílio.
Ele partiu na manhã de ontem para o Gabão, onde, oficialmente, participará de uma cúpula com líderes de Camarões, República Centro-Africana, Chade, Congo, Guiné Equatorial e Gabão para discutir a guerra civil.
Assessores dizem que Mobutu estará de volta hoje ou amanhã. Ao chegar a Libreville, ele parecia cansado, segundo testemunhas.
Mobutu, ditador do Zaire há mais de 30 anos, sofre de câncer de próstata e tem dificuldade para governar. Kabila já controla três quartos do país.
A transição proposta pela Aliança de Forças Democráticas para a Libertação do Congo-Zaire, liderada por Kabila, incluiria um outro movimento rebelde, o Coração Sagrado, dirigido por Etiènne Tshisekedi, ex-premiê.
Segundo informou o Departamento de Assuntos Humanitários da ONU, a rádio rebelde disse que "o Parlamento atual seria dissolvido, e um governo amplo de unidade nacional seria formado", com a exclusão dos partidários de Mobutu.
A aliança Coração Sagrado receberia uma "posição definida" no novo governo, que teria como desafio reconstruir o Zaire, "esmagado por Mobutu e seu regime decadente".
Os Estados Unidos estão pressionando Kabila a formar um governo de transição que inclua outros movimentos oposicionistas. Esse governo convocaria então eleições livres.
Fontes do governo norte-americano disseram esta semana que o enviado Bill Richardson admite a exclusão das forças leais a Mobutu num futuro governo de transição, mas insiste na inclusão de outros movimentos oposicionistas.
Fontes da ONU em Nova York dizem que a comunidade internacional espera que Mobutu renuncie, transferindo o poder para o Parlamento. O Congresso então nomearia alguém para negociar com Kabila.
A batalha de Kenge
Pelo menos dez agentes da Cruz Vermelha Zairense morreram nos combates entre tropas do governo e rebeldes em Kenge.
Trata-se de um local estratégico, pois é a última cidade importante na linha de avanço dos rebeldes antes de Kinshasa.
As testemunhas -moradores e funcionários de agências humanitárias- não souberam dizer como os 200 civis morreram.
Uma fonte ouvida pela agência "Reuter" disse que os rebeldes, mais uma vez, venceram as Forças Armadas com facilidade -perderam apenas 15 homens, contra 100 soldados regulares.
Por causa do avanço dos rebeldes, o clima é de expectativa na capital. A Swissair e a Air France desviaram seus vôos com destino a Kinshasa para a vizinha Brazzaville, no Congo (as duas cidades são separadas pelo rio Congo).
Segundo a Air France, seu avião passa normalmente nove horas no aeroporto de Kinshasa, o que é considerado arriscado atualmente. Calcula-se que o aeroporto será o primeiro ponto da cidade a ser tomado pelo homens de Kabila.

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