São Paulo, quinta-feira, 8 de maio de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Besson dá cara pop ao festival

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

Pop, pop, pop. Se Ridley Scott e seu "Blade Runner - Caçador de Andróides" fizeram antes, Luc Besson e seu "O Quinto Elemento" fazem melhor.
O thriller futurista do diretor francês, que abriu ontem à noite o 50º Festival de Cannes, na França, já é o grande filme pop do ano e traz uma entrelinha: Cannes se rendeu ao grande público?
Espera-se que não. Mas, se sim, o filme não poderia ter sido outro.
"O Quinto Elemento" resume-se a efeitos especiais-porrada-mulher bonita. Em 2214, Leeloo (Milla Jovovich) deve salvar a humanidade com a ajuda de Korben Dallas (Bruce Willis) e contra o vilão Zorg (Gary Oldman).
Custou US$ 90 milhões e é o mais caro filme francês -embora Besson tenha dito que faz filmes "com pessoas, não com dinheiro".
Pois o diretor, cujo flerte com o pop se resumia a "Subway", de 1985 -são dele também "Imensidão Azul" (1988) e "O Profissional" (1994)-, conseguiu uma feliz conjunção pessoas/dinheiro.
Os cenários são de Jean "Moebius" Giraud, o mais cool dos quadrinistas franceses; o figurino, de Jean-Paul Gaultier, que põe Willis numa inacreditável camisetinha laranja (suas palavras: "Foi fácil criar para ele, Bruce tem um bom físico, com toda aquela carne"); a música, de Eric Serra, de inacreditável bom gosto para um filme francês, vai de Khaled à tecno.
O filme conta com um engraçadíssimo Chris Tucker ("Panther") no papel do radialista pansexual acelerado Ruby Rhod, "uma mistura de Prince e Michael Jackson", segundo o próprio, e com a desconhecida Jovovich, que é tudo.
Ex-modelo e atriz de filmes "Z", 21 anos, nascida em Kiev (Ucrânia), encaixa-se bem no papel-título, o de ser humano perfeito (evidenciado na cena em que é "reconstruída").
Atrapalha apenas a vida real. Quando abriu a boca na coletiva, inundou a Croisette num mar de obviedades, coisas do naipe de "agradeço a oportunidade de brilhar" etc.
Gary Oldman é o outro destaque. Cabelinho à Hitler cibernético, sotaque impagável ("Uma mistura de Ross Perot e Pernalonga", disse ontem), rouba o filme como o canalha que se associa ao mal.
Ácido
" 'O Quinto Elemento' é 1/3 de 'Brazil', 1/3 de 'Guerra nas Estrelas' e 1/3 de Jacques Tati", definiu Luc Besson, ou " 'Star Wars' com ácido", como disse Oldman.
É mesmo. E Hollywood não gostou. A revista "Variety", que durante o festival publica uma edição diária, escreveu: "Os efeitos especiais medianos, a produção errática e a narrativa inarticulada devem prejudicar o filme menos no exterior que nos Estados Unidos".
O fato de Bruce Willis ser o protagonista parece ter ajudado na má vontade. Indagado se não se cansava dos mesmos papéis, disse -depois de ressaltar sua alegria por voltar a "Quêin" (sua pronúncia para Cannes): "Ninguém do showbizz leva mais a crítica a sério. O público se informa pela TV. Críticos são dinossauros".
Citações
"O Quinto Elemento", com seus carros flutuantes, ETs de ferro e alto-astral, é uma citação só. A melhor copia descaradamente "Blade Runner", na cena em que Daryl Hannah sai dando piruetas.
Aqui, é Jovovich quem destrói os inimigos, com o mesmo cabelo artificial e pintura pesada.
Até o mote repetido pelos heróis tem ligação direta com "Blade Runner": O tempo não importa, apenas a vida tem importância.
Pop perde.

Texto Anterior: Estudo sugere vacina contra câncer de cólon; Baratas causam asma, sugere estudo
Próximo Texto: Bellocchio realiza drama radiofônico
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.