São Paulo, quinta-feira, 8 de maio de 1997
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Bellocchio realiza drama radiofônico

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

"O Príncipe de Hamburgo" abre hoje a disputa pela Palma de Ouro de Cannes-97. O novo filme do italiano Marco Bellocchio ("De Punhos Cerrados") beneficiou-se de um "upgrade" nas disputas do ano. Previsto para Berlim, acabou sendo esnobado na primeira lista de concorrentes ao Urso de Ouro. Acolhido na segunda, vingou-se cancelando a ida ao encontrar um abrigo na competição francesa.
Bellocchio lucrou. Cannes, nem tanto. "O Príncipe de Hamburgo" adapta preguiçosamente a tragédia clássica de Heinrich von Kleist. O tema é marcadamente bellocchiano: o embate entre cérebro e coração.
A força destruidora do inconsciente já marcara diversas de suas obras mais recentes, assumindo distintas máscaras.
Em "Diabo no Corpo" e "O Processo do Desejo", era a máscara da sexualidade. Em "La Visione del Sabba", a da bruxaria.
Em "O Príncipe de Hamburgo", a esfera racional é posta à prova pelo instinto guerreiro.
O comandante da cavalaria alemã na Guerra dos Trinta Anos contra a Suécia -o príncipe do título- desobedece impetuosamente às ordens superiores e acaba por contribuir para o triunfo numa batalha.
Torna-se ao mesmo tempo herói para o Exército e desordeiro para o Estado. É preso e condenado à morte. Se suplicar clemência alegando "injustiça", será perdoado. Mas respeita racionalmente por demais a disciplina e a lei para fazê-lo.
Bellocchio deixou o diálogo monopolizar o filme. Reduziu a ação ao mínimo. Fez um drama radiofônico e não uma tragédia filmada. E Cannes, até que se prove o contrário, é um festival de cinema.

O crítico Amir Labaki está em Cannes a convite da organização do festival

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