São Paulo, sábado, 10 de maio de 1997
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LIVRO DE NASSAR VAI AO CINEMA

MARILENE FELINTO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Se depender de identificação, inspiração, paixão, zelo e patrocínio, um grande filme está para ser rodado. Trata-se da adaptação para cinema do romance "Lavoura Arcaica", de Raduan Nassar -projeto, roteiro e direção do carioca Luiz Fernando Carvalho, 36.
O diretor se refere com reverência ao que chama de seu "encontro" com "Lavoura Arcaica", um dos mais respeitados romances da literatura brasileira das três últimas décadas (leia texto ao lado).
A decisão de filmar o livro é resultado de uma "necessidade interior, de uma urgência minha acima de tudo", disse Carvalho com exclusividade à Folha na última terça-feira, de passagem por São Paulo (leia entrevista à página 4-5).
"Lavoura Arcaica" será o primeiro longa-metragem do diretor, que vem de uma carreira de 15 anos em direção de televisão, principalmente de novelas e minisséries para a Rede Globo.
Ele se consagrou como introdutor de uma estética cinematográfica na linguagem da novela. Seus trabalhos mais conhecidos nessa área são "Renascer" (1993) e "O Rei do Gado" (1996-97).
Carvalho já vem trabalhando no projeto de adaptação de "Lavoura Arcaica" há alguns meses. Mas o filme só se viabilizou, segundo ele, há poucos dias, depois de um contrato firmado com a Videofilmes, do Rio (que produziu "Terra Estrangeira", 1995). O filme será uma co-produção da Videofilmes com a Bangbang Filmes.
O roteiro, que está em fase final de elaboração, deve ficar pronto em dois meses. As filmagens começam no segundo semestre deste ano e têm plano de cinco semanas de duração. O lançamento do filme está previsto para o segundo semestre de 1998.
"Lavoura Arcaica" será todo filmado em São Paulo, possivelmente também no interior. O diretor está para visitar Pindorama, terra natal de Raduan Nassar, e pretende ainda ir ao Líbano pesquisar a cultura árabe. Os pais do autor eram libaneses.
Sobre isso, Carvalho comenta: "me interessa muito conhecer o Líbano para ter contato com a atmosfera geradora disso tudo, com a luz que bate lá, a textura das roupas, a temperatura, a música."
Embora desencantado com a linguagem de novela como meio de se expressar, Carvalho sabe do que ainda gosta em TV.
"Gosto do exercício contínuo, frequente. No início dos meus trabalhos, tinha uma preocupação de fazer cinema em televisão, mas acabei encontrando um intercâmbio maior com o veículo e acho que consegui, a partir de 'Renascer', um meio termo para o meu desejo de fazer alguma coisa que representasse um resultado menos massificado, mais humanizado."
Formado em arquitetura e letras, é um entusiasta de literatura. Adaptou para a televisão duas peças de Ariano Suassuna: "Uma Mulher Vestida de Sol" (1994) e "A Farsa da Boa Preguiça" (1995).
Entre as adaptações de literatura que o empolgam no cinema brasileiro, Carvalho cita "Vidas Secas", "São Bernardo", "Memórias do Cárcere" e "A Hora e a Vez de Augusto Matraga".
Seu escritor brasileiro preferido é Graciliano Ramos. Entre os cineastas, ele destaca Nelson Pereira dos Santos.
Em cinema, a experiência de Luiz Fernando Carvalho é mais modesta, destacando-se o curta "A Espera", de 1986, baseado em "Fragmentos de Um Discurso Amoroso", de Roland Barthes.
Suas principais influências ele localiza nos cineastas italianos, Visconti, Fellini, entre outros.
Avesso ao que chama de "a estética-produto" (por oposição à "estética do coração", em expressão de Machado de Assis, que cita) ou ao "cinema-indústria", Carvalho não acredita nas grandes produções cinematográficas.
Por enquanto, a produção total do filme "Lavoura Arcaica" tem custo orçado em aproximadamente US$ 1,8 milhão.

LEIA a entrevista com o diretor Luiz Fernando Carvalho à pág. 4-5

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