São Paulo, sábado, 10 de maio de 1997 |
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Bethânia mistura vida e arte
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
A princípio, o título: vem da canção "Imitação", do baiano Batatinha, que havia morrido à mesma época da estréia do show. Mais que homenagem, é o norte do espetáculo. Bethânia fecha outro ciclo, imitando não a vida, mas a própria arte -sua própria arte. O show funde canções, transformando várias delas em vinhetas rápidas, que só fazem atiçar o apetite de ouvi-las inteiras. A cada grupo de canções soldadas conceitualmente, acrescenta poemas de Fernando Pessoa, declamados como o eram nos shows dos 70 de forma nunca artificial ou afetada. Injeta emoção -mais que a dramaticidade que sempre a caracterizou -na militante "Rosa dos Ventos" (de Chico Buarque), "Gita" (de Raul Seixas, que, acredite, ela torna séria), cantigas de roda, quadrinhas, "Terezinha" (Chico outra vez), "Viramundo" (Gilberto Gil e Capinam). Aí vem o compêndio de riquezas antigas da MPB, sempre recolhidas por ela sem preconceito: "Preconceito", de Antonio Maria e Fernando Lobo, "Negue", de Adelino Moreira e Enzo Passos, a ultrakitsch "Lama", "Mensagem" (que consagrou Isaura Garcia), "Chão de Estrelas", poema musical absoluto de Silvio Caldas e Orestes Barbosa. Bethânia celebra o amargor espelhado nos poemas de Pessoa, como de diva que muito já viveu e encara sem furores as coisas do mundo -o drama já quase todo se converteu em serenidade. Então, em "Brisa" -cume do show e do disco-, Bethânia transforma em vida, via Manuel Bandeira, a imitação da vida: "Aqui faz muito calor/ No Nordeste faz calor também/ Mas lá tem brisa/ Vamos viver de brisa, Anarina". Máscara apegada à cara, arte e vida se convertem em uma só, afinal. (PAS) Disco: Imitação da Vida Artista: Maria Bethânia Lançamento: EMI Quanto: R$ 36, em média Texto Anterior: Artista reelabora canções Próximo Texto: Elba tropeça em versões Índice |
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