São Paulo, sábado, 10 de maio de 1997
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Artista reelabora canções

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

Se a novidade anda em falta no mercado nacional, "20 Anos - Antologia Acústica" pelo menos é caso em que o saudosismo se justifica pelo resultado do trabalho.
O disco vira documento de preservação da história da MPB, anexando a cada canção textos de Zuza Homem de Mello que não só explicam as razões de Zé Ramalho em cada criação como o situam no âmbito bem mais amplo da música popular nacional.
Mais: auxilia a compreensão da postura do artista, ponta-de-lança de vertente que ousou fazer vista grossa à tendência globalizadora que o tropicalismo havia trazido, investindo no nacionalismo de maracatus, repentes, modas de viola, martelos agalopados, cocos e emboladas -quase 20 anos antes do advento do mangue beat.
Aí a figura amedrontadora de Zé surgiu para afirmar a universalidade do regionalismo -não à toa, tem sido mais comparado a Bob Dylan que a Luiz Gonzaga.
A antologia traz a peculiaridade de não se somar ao vendaval de releituras empobrecedoras que artistas têm feito de suas próprias obras. Zé supera a precariedade de gravação de muitas de suas canções originais, investindo em arranjos encorpados, não raro bem diferentes dos originais.
A voz, mais grave, desfia clássicos que o imaginário já nem dava conta de serem de Zé: "Avohai", "Chão de Giz", "Banquete de Signos", "Frevo Mulher"...
São quase sempre versões aprimoradas de um veio determinado -e vigoroso- da MPB: o do profeta/messias agreste que reelabora a epopéia do sertão.
A exceção se estabelece justamente no hit "Admirável Gado Novo". A faixa traz o feito de retirar o ranço messiânico de que a Globo tão bem se serviu na defesa demagógica dos sem-terra, mas Zé aparece sem viço, secundado por tenebroso coro à moda católica. Nada que tire do artista o trono recém-recuperado de figura ímpar e inconfundível da MPB.
(PAS)

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