São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997
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Supermãe teve 33 filhos em 17 partos

ESTANISLAU MARIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

Com apenas 33 anos, a cearense Rosângela Cunha já deu à luz 33 filhos. "Se pudesse, teria até mais." Hoje, 21 são vivos, mas passará o Dia das Mães em companhia de apenas 4.
A supermãe ficou grávida 21 vezes. 20 de gêmeos. Só na 21ª gravidez é que Rosângela teve apenas um menino: Renan, que completa amanhã um mês.
Ela teve quatro gravidezes interrompidas por volta do quarto mês.
A primeira gestação de Rosâgela aconteceu aos 11 anos de idade, em 1975. Segundo suas contas, houve apenas um ano em que a supermãe não engravidou. Foi em 1995, quando estava com 31 anos.
Ela já ficou viúva duas vezes. Rosângela aprendeu o ofício de mecânica com o primeiro marido, com quem teve sete pares de gêmeos. Com o segundo, teve outros 13 pares.
Acidente
Em 1983, aos 19 anos e 16 filhos nascidos, ela perdeu, de uma só vez, sete filhos em um acidente de ônibus entre Belém e Fortaleza.
Cinco (de pares diferentes com 1, 2, 4, 5 e 6 anos) morreram no acidente de ônibus.
Outros dois morreram em uma aborto natural provocado pelo choque que Rosângela sofreu com a notícia do acidente.
Hoje, a dona-de-casa, ex-torneira mecânica, ex-empregada doméstica, vai passar o Dia das Mães apenas com os quatro filhos menores que ainda moram com ela em Belém.
Pelas últimas informações, Rosângela conta 17 filhos vivos. Todos eles hoje moram fora de Belém. Alguns já têm netos.
Filho único
O atual marido, Arnaldo Malcher, 40, pai só de Renan, único Não-gêmeo, ganha um salário mínimo como ajudante de pedreiro.
A família mora em um barraco de dois cômodos, sem água encanada nem banheiro, sobre palafitas na bacia do rio Tucunduba, em uma área de invasão urbana no bairro da Terra Firme.
Renan, que ainda mama no peito, é o único que tem alimento garantido. "Um dia comemos pão; quando tem, feijão, arroz. Para enganar a fome, faço um mingau de farinha", diz a mãe.
Um litro de sopa e pães doados pela igreja três vezes por semana reforçam a alimentação da família. Com Renan no colo, Rosângela vai, de ônibus, buscar a sopa.
À noite, depois do trabalho, o marido caminha cerca de 1.500 metros nas calçadas de madeira das palafitas para buscar água potável.
Espalhados
Devido às dificuldades financeiras, Rosângela acabou deixando filhos espalhados por todo o Brasil com parentes ou ex-patroas. Ela não vê os filhos do primeiro casamento há mais de dez anos.
O último contato com outros filhos foi em 1995. Um incêndio em outro barraco em que morava queimou endereços, documentos e fotografias.
Apesar da lista extensa, ela lembra fácil nomes, idades e as cidades onde estariam.
Alguns já têm suas próprias famílias ou moram com parentes no Ceará. Outros ficaram com famílias amigas ou antigas patroas, como é o caso de Marilene e Marineide, 10, com ex-patroa em Porto Alegre, ou Cléber, 11, e Marcos Roberto, 9, na Ilha de Marajó.
Rosângela tem filhos também em Manaus, Maceió e Rio.
"Tenho saudades, mas não tristeza. Sei que eles estão em boas mãos", disse ela. "Não dei os meus filhos. Dentro do que era possível fazer, fiz o melhor. Quem sabe um dia eles ainda me procuram", disse ela.

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