São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997
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Esquema disque-drogas cresce na cidade

DA REPORTAGEM LOCAL

Um novo tipo de traficante está dominando o comércio de drogas nos bairros de classe média e alta de São Paulo.
Sem ponto fixo, ele usa telefone, normalmente celular, para receber as encomendas e carro ou moto para fazer as entregas.
Como não aparece e não há movimentação em sua casa, dificilmente é denunciado por vizinhos ou reconhecido pela polícia.
"É difícil colocar as mãos nesse tipo de traficantes", admitiu o delegado Marco Antonio Martins Ribeiro de Campos, diretor do Denarc, órgão da Polícia Civil responsável pela repressão ao narcotráfico.
"Além de não vender drogas em casa, ele muda constantemente de endereço e telefone, não atraindo muitas suspeitas."
Porte médio
Ribeiro de Campos acha que esse traficante pode ser considerado de "porte médio".
Ele compra uma quantidade relativamente grande -entre 200 gramas e meio quilo- de um grande traficante que tem ligação com máfias internacionais.
Os clientes desses traficantes são basicamente profissionais liberais de classe média, com poder financeiro para comprar quantidades maiores de droga, entre 5 e 10 gramas de cocaína e entre 100 e 200 gramas de maconha.
Só para conhecidos
Ao contrário de traficantes da periferia, os "motorizados" raramente negociam crack, droga de pouca penetração na classe média.
Um exemplo do crescimento desse tipo de tráfico é o ex-bancário J.L.S., 38. Morador de Pinheiros (zona oeste), ele vive do tráfico de drogas há três anos, desde que abandonou a agência bancária onde trabalhava.
Desde então, mudou de casa três vezes e teve quatro números de telefone diferentes.
Para não correr riscos, só atende clientes antigos ou pessoas apresentadas por conhecidos.
"Se não conheço a pessoa, não faço negócio. Não tenho como saber se é um policial disfarçado. Além disso, não quero que muita gente fique sabendo que eu trabalho com tráfico de drogas", afirma J.L.S.
O ex-bancário, apesar de todas as precauções, afirma viver sob tensão. Há cerca de um mês, sua irmã, também traficante no mesmo esquema, foi presa ao abrir a porta de seu apartamento a um policial do Denarc.
A ausência de horário de trabalho e a boa "remuneração" são as justificativas do ex-bancário para continuar no tráfico.
"Acordo a hora que quiser e tiro uns R$ 4.000 por mês. Como bancário, acordaria cedo e ganharia $ 1.000", afirma J.L.S., que garante não usar cocaína desde que começou a traficar.

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