São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 1997 |
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Lula apóia Tarso Genro para Presidência
CLÓVIS ROSSI
Foi anteontem à noite, numa minicúpula do PT, que começou no restaurante e terminou no bar do Marbella Resort, imponente complexo turístico 160 km ao norte de Santiago, capital do Chile, local de um encontro da esquerda e centro-esquerda latino-americana. A cantora do hotel cantava boleros e tangos, enquanto os dois "presidenciáveis" do PT, o presidente do partido, José Dirceu, e o secretário de Relações Internacionais, Marco Aurélio Garcia, discutiam 1998. Lula insistiu em que não quer ser candidato e deu todo o apoio a Tarso (que quer). Mas concordou que a decisão final deve ficar para julho, quando haverá reunião do Diretório Nacional petista. Frente Esse período será aproveitado para consultar o partido e possíveis aliados sobre uma frente "frontalmente contrária ao projeto neoliberal", como diz Tarso. Na prática, o prazo será utilizado para avaliar se Tarso Genro consegue viabilizar o seu nome no próprio PT e junto aos eventuais parceiros. A disposição dos petistas, diz Lula, é a de "criar um movimento que envolva partidos, intelectuais, empresários, sindicalistas e elabore um programa mínimo, que pode ter quatro ou seis dedos, não cinco (como o de FHC), e permita uma mobilização nacional". Perguntado se continuava "não estando candidato", Lula respondeu: "Minha única obsessão é criar esse movimento". A lista do PT Já na próxima semana, Lula inicia o processo de consultas internas e externas. Na lista de José Dirceu, figuram os aliados tradicionais do PT à esquerda (PC do B, CUT, MST), mas também o PDT (leia texto ao lado), o PSB, setores do PMDB e do PSDB, dom Luciano Mendes de Almeida, juristas de São Paulo, como Goffredo da Silva Telles, artistas e intelectuais. Os petistas consideram como potenciais aliados, entre outros, os senadores peemedebistas Roberto Requião (PR) e Pedro Simon (RS) e a fatia do PMDB mineiro que apóia o prefeito Célio de Castro (PSB), além do tucano Ciro Gomes (PSDB), ex-ministro da Fazenda. As consultas se farão sobre o nome e também sobre um programa alternativo ao neoliberalismo, exatamente o motivo do encontro no Chile. Ao contrário do que ocorreu nas duas eleições presidenciais anteriores, desta vez o comando do PT entra para a disputa convencido das imensas dificuldades pela frente. Ao falar anteontem no seminário das esquerdas, José Dirceu disse: "Ou fazemos no Brasil uma ruptura ou faremos um governo à la Felipe González ou François Mitterrand", aludindo a ex-governantes socialistas de Espanha e França, acusados de praticarem políticas similares às neoliberais. Terminou o presidente do PT: "Consequentemente, teremos que administrar a insatisfação da nossa própria base. Seria o pior dos mundos, porque teríamos oposição dos de cima e dos de baixo. Nessas circunstâncias, prefiro ficar na oposição mais quatro ou oito anos". Pontos consensuais O filósofo Roberto Mangabeira Unger, coordenador do encontro, professor de Direito em Harvard (EUA) e ligado a Leonel Brizola, do PDT, resumiu os pontos que considera consensuais em torno dos quais giraria o programa da frente ampla: 1) Recuperar a capacidade de financiamento do Estado, via reforma tributária baseada na taxação do consumo (há dúvidas no PT a respeito dessa taxação) e um novo modelo previdenciário. 2) Mudança da situação social, por meio da "prioridade absoluta à salvação das crianças, educacional e fisicamente" e pela insistência em aumentar a participação dos salários na renda nacional. 3) Acabar com o dualismo entre vanguardas e retaguardas, por meio da coordenação descentralizada entre agentes públicos e pequenas e médias empresas. 4) Revisão das instituições políticas e sociais, de forma "a responsabilizar o Estado perante a sociedade". Texto Anterior: PMDB acerta trégua interna para votação Próximo Texto: PDT quer apoio do PT no Rio Índice |
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