São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 1997
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Leite para bebê tem falhas, mas é saudável

PRISCILA LAMBERT
DA REPORTAGEM LOCAL

As fórmulas de leite em pó que substituem o leite materno para recém-nascidos possuem desvios em relação à composição prometida em seus rótulos. Nenhum deles, no entanto, representa perigo à saúde dos bebês.
Essa foi a conclusão de um teste com 16 marcas de leites para uso infantil realizado pelo Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) em conjunto com o Instituto Fernandes Filgueira da Fundação Oswaldo Cruz (IFF/Fiocruz), do Rio de Janeiro.
O teste não acusou a presença de bactérias, bolores e resíduos de pesticidas em nenhuma das fórmulas analisadas. Já em relação a sua composição, foram registradas algumas diferenças.
Rótulo
A análise do rótulo apontou que os valores de sódio e proteínas indicadas no Nestogeno 2 (Nestlé) ultrapassam os limites fixados pelo Codex Alimentarius -norma internacional que especifica a composição de fórmulas para uso até um ano de idade- em 1% e 3%., respectivamente.
Na verdade, esses valores respeitam uma outra norma do Codex, para leites de seguimento -produtos com quantidades um pouco maiores de ferro que os outros leites-, que devem ser usados a partir dos seis meses de idade.
O rótulo do Nestogeno 2, porém, indica o produto para bebês com idades a partir de cinco meses.
Desvios na composição
Nos testes laboratoriais, também foram encontradas várias disparidades com relação ao que era declarado na embalagem.
Em todos os produtos analisados, verificou-se uma diferença superior a 10% -para mais ou para menos- em um ou mais nutrientes, em relação à informação indicada no rótulo.
O Nursoy (Wyeth-Whitehall) foi o que menos apresentou desvios em sua composição, excedendo as normas apenas na quantidade de ferro.
No Nan 1 (Nestlé), foi encontrado 81% a mais de vitamina A e 21% a menos de cálcio do que declarava o rótulo, superando em 7% e 1%, respectivamente, os limites estabelecidos pelo Codex.
No Alfaré (Nestlé), foi acusado 2% de sódio acima dos limites da norma. Também no Nestogeno 2 (Nestlé), as taxas de proteína estavam 6% acima do limite.
Esses desvios, porém, se aproximam muito dos valores do Codex e não são considerados perigosos pelos especialistas.
"Os desvios são mínimos e não prejudicam a saúde. Mas as informações do rótulo têm de corresponder à realidade", afirma o presidente da Sociedade de Pediatria de São Paulo, Francisco Roque Carraza.
"Mas há sinais de descuido no controle de qualidade. Isso nos preocupa, porque, se não houver melhor fiscalização, poderá ocorrer desvios maiores no futuro", disse Silver.
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Muitos fabricantes vendem suas fórmulas para os médicos como sendo indicadas para vários sintomas, como diarréia, rinites, otites e cólicas.
Segundo o pediatra Francisco Roque Carraza, as fórmulas não são indicadas para esses casos. "Diarréia aguda é muito comum em bebês e deve ser tratada com reidratação oral. A mãe não deve mudar o leite por causa disso", afirmou o médico.

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