São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 1997
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A quatro mãos (17)

WASHINGTON OLIVETTO; MIGUEL KRIGSNER

WASHINGTON OLIVETTO e MIGUEL KRIGSNER
A cada dia que passa, mais e mais empresas demonstram preocupações sociais.
O que é ótimo para o marketing da empresa é melhor ainda para a consciência do empresário.
Trata-se de um fenômeno mundial que no Brasil começa a ter representantes.
Convidei um dos brasileiros que primeiro perceberam essa necessidade para comentar esse assunto: Miguel Krigsner, presidente do grupo O Boticário e da Fundação Boticário.
Com vocês, no "A quatro mãos" de hoje, um empresário realmente preocupado em construir uma sociedade mais respirável para todos nós.
Recentemente, conversando com um amigo, ele relembrava o ditado popular segundo o qual um homem poderia se sentir realizado a partir do momento em que tivesse plantado uma árvore, gerado um filho e escrito um livro.
Na ocasião, a citação veio leve e bem-humorada em primeiro lugar, para logo em seguida produzir reflexões sobre o alcance e a profundidade dos nossos gestos e das nossas ações cotidianas.
Apesar da ligeireza com que falamos em plantar árvores, gerar filhos ou escrever livros, cada um de nós sabe, no fundo, que por trás de empreitadas aparentemente tão fáceis de serem assim resumidas e alinhadas, existe um mundo enorme de intenções -e boas e verdadeiras intenções- a anteceder o gesto físico do plantio, da concepção ou de uma criação intelectual qualquer, seja em sentido estrito, seja em sentido figurado.
Como já dizia Roberto Alvim Corrêa, em "Anteneu e a Crítica", o simples é o contrário do fácil.
E é a má compreensão deste princípio que explica, talvez, os equívocos, os fracassos e as frustrações que costumam acometer pessoas e empresas na vida e nos negócios.
A importância e a prioridade que atribuímos ao resgate da boa essência das coisas, mais do que enlevo e atenção excessiva atribuída às pirotecnias e aos encantos do arsenal marqueteiro, têm sido uma tônica no dia-a-dia da nossa empresa e daqueles que a fazem existir.
As ações do Boticário no campo das suas relações com as pessoas e com o meio ambiente inspiram-se, portanto, num sentimento verdadeiro, assimilado por cada um de nós, de que a uma empresa, seja ela grande ou pequena, não basta apenas perseguir bons desempenhos ou resultados financeiros positivos, mas ela deve ter compreensão e consciência plenas de que seus compromissos estendem-se também à ética, ao homem e à natureza.
Diante disso, o surgimento da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza explica-se por uma postura intrínseca e espontânea da empresa e das pessoas que a compõem, antes de se transformar em um "case" bem sucedido de marketing.
Afinal, tratou-se de uma iniciativa que veio à luz para oferecer contribuição efetiva e devida à conservação do meio ambiente e à educação ambiental, hoje materializada por 460 projetos financiados e viabilizados pela instituição.
Como não foram gestos isolados, de desenho estratégico, as atitudes de respeito ao homem e de compromisso com as comunidades e com a sociedade como um todo vêm se repetindo, também, no campo das relações comerciais com os nossos parceiros.
As oportunidades divididas com os nossos 1.434 franqueados têm produzido bons frutos em matéria de geração de bens e receitas, confirmando a tese de que o bom senso ainda é o melhor negócio.
O que temos colhido ao longo dos últimos 20 anos -que é a idade do nosso empreendimento- são os bons frutos da nossa confiança e das nossas convicções no homem e na relação humana. O que pode parecer inovador é a certeza de que atitudes e ações corretas hoje premiam bem mais do que a consciência empresarial, transformando-se no melhor marketing.

Washington Olivetto é presidente e diretor de criação da W/Brasil e Miguel Krigsner é diretor presidente do grupo O Boticário e da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza.

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