São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 1997
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Luz cultural

PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

A Luz, uma das regiões mais deterioradas de São Paulo, é o foco principal dos projetos de preservação do patrimônio histórico na cidade. E a estratégia escolhida pelas administrações públicas para pôr em prática a revitalização da área é investir no nascimento de um novo pólo de cultura.
A criação de uma Luz como centro de cultura já tem, em termos concretos, ações políticas do Estado e da Prefeitura e pelo menos R$ 16 milhões a serem investidos pelo BID (Banco Mundial).
O financiamento foi conseguido pelo Programa de Reabilitação do Patrimônio Cultural Urbano, do Ministério da Cultura, que realizará intervenções do tipo em sete cidades brasileiras.
Em São Paulo, o projeto está sendo desenvolvido pelo Departamento de Patrimônio Histórico (DPH), da prefeitura, e inclui a restauração de imóveis, mudanças viárias, criação de estacionamentos e recuperação paisagística, além da recuperação e modernização da estação da Luz.
Para isso, é necessário que exista uma ação conjunta das três instâncias de governo, a realização de outros projetos já em curso e o envolvimento de várias secretarias municipais.
"O financiamento acaba de ser aprovado e nós esperamos poder começar efetivamente a implantar o projeto já em 98", diz Maria Aparecida Lomônaco, diretora do DPH, à frente do projeto.
A empreitada, no entanto, não é a única na área. O Governo do Estado já anunciou que transformará a estação Júlio Prestes numa sala de concertos e sede da orquestra de São Paulo. Além disso, o prédio do Dops, onde hoje funciona o Decon, será a sede da Universidade Livre de Música.
Vocação
Local de construções do século 18, como o Mosteiro da Luz, o bairro teve sua cara determinada pelos diversos tipos de ocupação pelas quais passou. Foi área militar, religiosa, universitária (lá funcionava a Escola Politécnica, da USP) e conserva duas vilas operárias (Economizadora e Inglesa), construídas para os trabalhadores que fizeram a estação de trens. Além disso, mistura a cultura dos italianos, judeus e, mais recentemente, coreanos.
Mas o principal motivo para a que a Luz fosse eleita prioridade é a grande concentração de imóveis com vocação cultural. Afinal de contas, a região reúne 17 edificações tombadas, entre eles a Estação da Luz, o Portal de Pedra -única parte remanescente do presídio Tiradentes- e o Mosteiro da Luz.
Há ainda cerca de 60 com possibilidade de abrigar espaços culturais. Estão ali, por exemplo, a Pinacoteca do Estado, o Museu de Arte Sacra e a Oficina Cultural Oswald de Andrade.
Há cerca de um mês, o próprio DPH foi transferido para a área, na Casa da Memória (edifício Ramos de Azevedo), que pertencia ao conjunto da Poli. O prédio foi restaurado e vai virar uma espécie de museu da cidade além de receber eventos, como leitura de poesia, em um auditório.
Outros fatores importantes, segundo Lomônaco, são a existência de uma grande área verde, o Parque da Luz, e ótimas condições de acesso (trens, metrô e ônibus).
"Mas só isso não adianta porque o paulistano não vai usar transporte público. É preciso de estacionamentos e algumas mudanças viárias. Também pensamos em fazer passarelas por sobre a avenida Tiradentes, que corta o bairro", afirma Lomônaco.
A avenida, aliás, é considerada uma das vilãs que contribuíram para o processo de deterioração da área. Ampliada como parte do plano de avenidas de Prestes Maia, a Tiradentes acabou por descaracterizar a região.
Deterioração
Mas a barreira da circulação não é o principal obstáculo ao sucesso do projeto. Cortiços, vendedores ambulantes, prostituição e criminalidade formam, junto com as dezenas de lojas, o perfil da área.
Segundo dados da Sempla (Secretaria Municipal de Planejamento), o Bom Retiro tem ocupação predominantemente comercial. São lojas de malas, roupas, calçados, discos, pequenos artigos importados, cinemas pornográficos e hotéis de alta rotatividade.
Sem problemas de infra-estrutura como falta de água, luz ou pavimentação de ruas, a região abriga uma população com renda média de 10,2 salários mínimos. Mas, de acordo com a secretaria, proliferam cortiços e moradores de rua.
O uso da Estação da Luz, por onde passam cerca de 100 mil pessoas diariamente, também está em decadência, segundo a Sempla. Sua renovação, com custo estimado em R$ 18 milhões, par parte do projeto "Integração Centro", de melhorias do sistema de transporte ferroviário.
"Queremos trazer outras populações para a área, mas sem expulsar quem está aqui. Está sendo estudada, inclusive, a abertura de linhas de crédito para que os proprietários dos imóveis façam melhorias", afirma Lomônaco.

LEIA MAIS sobre a revitalização da Luz à pág. 5-12

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