São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 1997
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Filme fracassa, mas reconcilia Wenders e Hollywood

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

Com "The End of Violence" (O Fim da Violência) exibido ontem na competição, Wim Wenders volta a Hollywood 13 anos depois de "Paris, Texas" (Palma de Ouro de 1984).
É seu primeiro filme rodado em inglês desde então, numa produção ironicamente bancada sobretudo pela produtora francesa Ciby 2000, a atual bicampeã de Cannes ("Underground" e "Segredos e Mentiras"). Nada mais improvável que o tri.
"Foi um alívio filmar em Hollywood desta vez", afirmou um relaxado Wenders ontem em Cannes. "Hoje há muito mais espaço para o cinema independente."
"The End of Violence" é um projeto-relâmpago, escrito em seis semanas e rodado em 28 dias.
O trio responsável é formado por Wenders, Bono Vox e Nicholas Klein. "Quisemos fazer um filme sobre a violência, mas não um filme violento", precisou o diretor alemão.
Cumpriram os objetivos -mas o resultado final não ressuscita a carreira do diretor de "Asas do Desejo".
"The End of The Violence" parece se desenrolar a partir de uma equação mal desenvolvida, e não de um roteiro. São gritantes a implausibilidade da trama e a superficialidade dos personagens. Wenders assume que o rodou "sem pensar duas vezes". Percebe-se com facilidade.
Bill Pullman (de "Independence Day") faz Mike Max, um bem sucedido produtor de filmes violentos. O fim de seu casamento com a fútil Paige (Andie MacDowell, mal-aproveitada como nunca) coincide com um estranho episódio. Depois de receber por e-mail um relatório secreto sobre o FBI, Max é atacado por dois assassinos de aluguel. Corte.
O gênio dos computadores, Ray Bering (Gabriel Byrne), acompanha tudo pelo sistema de vigilância eletrônica. Mas uma parada no sistema o faz perder o essencial: em segundos, Max desaparece e os dois pistoleiros surgem mortos.
Pullman se esconde entre "latinos" para saber o que houve. Bering não demora a descobrir que também é observado. Um policial novato (Loren Dean) desenvolve ainda outra investigação.
A solução do mistério confirma-se como um segredo de polichinelo, mas o tosco labirinto da trama revisita as questões obsessivas do Wenders recente: a sedução da violência e o preço por ela cobrado; a proliferação de câmeras e computadores formando um perigoso sistema panóptico, como uma espécie de Grande Irmão high-tech; o comprometimento das relações humanas pela avalanche tecnológica no setor de comunicações (celulares, laptops, câmeras de bolso).
Ao menos "O Fim da Violência" apresenta uma fluência narrativa há muito ausente nos filmes de Wenders. Aplauda-se o velho colaborador Peter Przygoda na montagem, mas louve-se principalmente a excepcional trilha assinada por Ry Cooder.
Cooder volta a trabalhar com Wenders pela primeira vez desde "Paris, Texas".
Alterna composições próprias e participações especiais que vão de Tom Waits a Los Lobos e de Roy Orbison a The Eels. E fecha com uma bela balada de Bono, "I'm Not Your Baby", interpretada em duo com Sinéad O'Connor.
A trilha tem a eficiência dramática que falta a todo o resto. Se há alguém a ser premiado por "The End of Violence", é Ry Cooder.

Filme: The End of Violence (O Fim da Violência) Direção: Wim Wenders
Roteiro: Wenders e Nicholas Klein
Com: Bill Pullman, Gabriel Byrne, Andie McDowell, Samuel Fuller

O crítico Amir Labaki está em Cannes a convite da organização do festival.

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