São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 1997
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Kabila pode abandonar negociações

Comando do Parlamento acirra crise

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Os rebeldes do Zaire anunciaram que podem abandonar a iniciativa de paz, mediada pela África do Sul. Se isso acontecer, eles vão retomar o avanço contra a capital, apesar de terem acenado com uma trégua ao presidente sul-africano, Nelson Mandela.
Bizima Karaha, "ministro das Relações Exteriores" do movimento rebelde liderado por Laurent Kabila, foi quem fez a ameaça.
Numa entrevista coletiva em Lubumbashi, reduto guerrilheiro no sudeste do Zaire, afirmou que os guerrilheiros vão levar a ameaça adiante caso o arcebispo Laurent Monsengwo assuma a presidência do Parlamento zairense.
Monsengwo, arcebispo da cidade de Kisangani (norte), foi eleito anteontem para o cargo, vago há dois anos. Pela lei, ele assume o poder no caso da renúncia do presidente Mobutu Sese Seko.
Segundo Karaha, a única transferência aceitável para os rebeldes é de Mobutu para Kabila. Outra organização oposicionista do Zaire, liderada por Etiènne Tshisekedi, anunciou que também não aceita uma eventual transição do poder para Monsengwo.
Combate
O porta-voz de Kabila acusou o governo zairense de aproveitar a trégua durante as negociações de paz, sob a mediação da África do Sul e dos Estados Unidos, para consolidar sua posição na capital e avançar militarmente.
Nos últimos dias, disse, soldados zairenses, com o apoio dos guerrilheiros angolanos da Unita e de ex-soldados de Ruanda, atacaram posições rebeldes perto da cidade de Kenge, 250 km a leste de Kinshasa.
O ataque teria sido repelido. Karaha acusou Mobutu de pretender matar os estrangeiros que estão no Zaire, para provocar uma intervenção internacional. Ele pediu que todos os estrangeiros deixem o país.
O enviado dos Estados Unidos para o Zaire, Bill Richardson, disse ontem que "por enquanto" não é preciso retirar os estrangeiros de Kinshasa.
Segundo Richardson, a perspectiva de uma nova reunião entre Kabila e Mobutu, na quarta-feira, oferece uma "boa oportunidade de transição pacífica" do poder no país.
Falando à rede de TV paga CNN, Richardson disse que os estrangeiros que vivem no Zaire não correm grande perigo iminente.
Refugiados
Uma missão humanitária da ONU encontrou milhares de refugiados hutus de Ruanda no leste do Zaire.
"Encontramos entre 5.000 e 6.000 refugiados, 80 km ao sul de Kisangani", disse Julian Fleet, que participou da missão. "Um grande número de pessoas morreu; outros estão à beira da morte". A missão distribuiu 26 toneladas de alimentos e voltou para Kisangani com 468 refugiados, a maioria crianças.

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